quinta-feira, 25 de setembro de 2014 | |

"O coliseu de Dilma" (a governabilidade que não queremos)

Dilma bateu muito em Marina dias atrás colocando em dúvida a governabilidade em uma eventual administração da ex-ministra do Meio Ambiente. "Será que ela quer? Será que ela tem jeito para negociar?", questionou a propaganda eleitoral do PT, sobre a capacidade da presidenciável do PSB de formar uma maioria no Congresso.

Na última terça-feira (23/9), a “Folha” publicou uma reportagem que dá uma boa indicação de como essa tal "governabilidade" é construída no país, na prática.

Interessado em fazer algo que marcasse sua gestão, o prefeito do pequeno município de Alto Santo, no sertão cearense, resolveu construir um estádio de futebol com fachada inspirada no Coliseu romano. Sem dinheiro para a obra, afinal trata-se de uma cidade pobre, o político pediu ajuda a um colega deputado, que prontamente apresentou uma emenda ao Orçamento da União.

De olho justamente na governabilidade, o governo do PT liberou o recurso sem se importar com alguns detalhes: a capacidade prevista para o coliseu cearense é maior do que a própria população da cidade (20 mil lugares contra 16 mil moradores)! Pior, Alto Santo nem mesmo possuiu uma equipe profissional de futebol - o time mais próximo fica a 160 km de distância...

Marina, de fato, ainda não explicou como fará, se eleita, para aprovar seus projetos no Congresso sem que o país precise jogar dinheiro fora em obras ridículas e desnecessárias como a do coliseu cearense. A ex-ministra disse apenas que implantará a "nova política", o que soa bonitinho, mas não esclarece nada.

O discurso sonhático de Marina tem, ao menos, o mérito de indicar aos parlamentares que existem limites, algo que o pragmatismo petista há muito tempo abdicou de fazer.

É possível fazer diferente? Dá para manter a governabilidade sem precisar comprar o Congresso com as tais emendas ou, como ficou provado no mensalão, com coisas ainda piores?

Fonte: Rogério Gentile, “Folha de S. Paulo”, Opinião, 25/9/14, p. 2.

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