quinta-feira, 3 de outubro de 2013 | |

Uma cidade sem lideranças

“É uma vergonha para Limeira.”

Assim reagiu um amigo, sem nenhum envolvimento político-partidário, trabalhador comum, vigia noturno, a respeito da confirmação da instalação de uma unidade da Mercedes-Benz em Iracemápolis.

Um outro amigo, mais ligado à área política, embora não atuante, perguntou-me: “E aí, qual a repercussão da Mercedes?”

Respondi com a frase do amigo vigia.

Por mais que pareça simplista, a frase desse meu amigo resume muito do sentimento do limeirense comum: o de quem se sente abandonado.

Limeira, há tempos, carece de líderes.

Tomemos a história recente do município. Nos últimos 20 anos, seis prefeitos comandaram a cidade: Jurandyr Paixão, Pedro Kühl, José Carlos Pejon, Silvio Félix, Orlando Zovico e agora Paulo Hadich.

Nenhum deles foi o líder que os limeirenses esperam.

Paixão era o que mais possuía características de liderança, mas fez um mandato (1993-96) desgastado, sem grandes realizações, envolto em polêmicas – como a concessão do sistema de água e esgoto. Deixou a prefeitura com um alto índice de rejeição e de forma um tanto melancólica para quem fora deputado federal e ditara os rumos políticos da cidade por quase quatro décadas.

Kühl assumiu com respaldo popular e apoio do empresariado por sua ligação com a Associação Comercial e Industrial (Acil) e a maçonaria. Fez, porém, um governo tímido e, embora tenha ensaiado assumir voos mais altos (foi candidato a deputado federal) e vivesse manifestando sua amizade com o então governador Mário Covas (PSDB), nunca conseguiu se impor politicamente além das fronteiras limeirenses nem sequer dar à cidade um papel relevante no Estado e no país.

Pejon fez um “meio governo” (assumiu após a renúncia de Kühl e ficou pouco mais de dois anos no cargo). Tentou deixar algumas marcas, como a compra do Edifício Prada para sediar a prefeitura, mas passou longe de colocar a cidade no mapa político do Estado e do país, por mais que tenha tentado se aproximar da cúpula do PSDB estadual.

Félix, tal como Paixão, exibia traços de liderança, mas a soberba e a ambição desmesurada impediram que alçasse voos. Era mal visto no governo estadual por críticas que fazia à gestão Geraldo Alckmin (PSDB). Um deputado disse certa vez que dava vergonha agendar audiências do então prefeito com secretários estaduais porque, ao invés da necessária humildade para quem vai passar o chapéu, Félix costumava querer saber mais que o anfitrião.

Tinha certa influência junto à liderança do PDT (leia-se o deputado federal Paulo Pereira da Silva, o Paulinho da Força Sindical, hoje no Solidariedade), mas viu sua carreira política afundar diante do escândalo de corrupção que atingiu seu governo. Acabou melancolicamente cassado.

Zovico mal teve tempo para ser prefeito (comandou a cidade por dez meses após a cassação de Félix).

Hadich assumiu há pouco. Tem perfil de liderança, comandou entidades e conseguiu arregimentar forças para sair candidato a prefeito – e vencer. O seu modo de governar, porém, impede que se destaque. Adota uma postura retraída, silenciosa, não consegue transmitir à população a imagem de um comandante (e, queira ou não, o prefeito é um comandante).

Independentemente do perfil, porém, o fato é que nenhum dos chefes do Executivo – nem qualquer outra liderança política – conseguiu dar a Limeira um papel mais relevante no contexto estadual e federal, para fazer jus à posição da cidade como uma das principais economias de São Paulo.

É certo que uma conquista como a Mercedes passa muito além da figura do prefeito. Diria até que, entre tantos fatores relevantes (como a oferta de mão-de-obra), o aspecto político é secundário. O que não significa que não seja importante.

Valmir de Almeida (PT), prefeito de Iracemápolis, não é responsável direto e maior pela atração da nova empresa. Mas é também responsável e, naturalmente, colherá os frutos políticos.

Está, como Hadich, no início de gestão. Mais do que Hadich, contudo, “comprou a briga” quando a cidade se viu ameaçada de perder a empresa ao cobrar publicamente o Sindicato dos Metalúrgicos – que ameaçava melar a negociação entre prefeitura e Mercedes.

E que fique claro: ao tratar da falta de lideranças em Limeira, não falo apenas do chefe do Executivo.

Neste episódio da Mercedes, o que mais chama a atenção é o silêncio generalizado: o cidadão comum entende que “é uma vergonha para Limeira” e não se vê praticamente ninguém indignar-se.

Onde foi parar a capacidade de indignação? Onde estão os líderes da oposição? E os ex-prefeitos? O que disse a respeito o presidente da Acil? E do Ciesp (Centro das Indústrias do Estado de São Paulo)? Que plano estas e outras entidades, mais o Poder Público, têm para que a cidade deixe de ser coadjuvante e assuma um papel de protagonista na região?

O que disseram os vereadores? E os secretários municipais? E o empresariado em geral? E a imprensa?

Ou então acharemos eternamente normal Limeira assistir à instalação de megaempresas ao seu redor (Hyundai em Piracicaba, Honda em Sumaré e Itirapina, Toyota em Indaiatuba, além da Mercedes em Iracemápolis, só para ficar nas montadoras de veículos) sem que a cidade se coloque como alternativa viável para receber estas e outras multinacionais – papel que já desempenhara no passado?

Será que vamos ter que reclamar ao bispo...?

0 comentários: