terça-feira, 24 de setembro de 2013 | |

A comunicação é uma ilusão

O professor Ciro Marcondes Filho, da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo, foi o primeiro palestrante do evento “Comunicação/Ilusão”, organizado pelo Departamento de Ciências Humanas da Unesp (Bauru).

(...) Em um de seus últimos livros, “Jornalismo fin-de-siècle”, o professor apresenta um perfil bastante apocalíptico da imprensa, destacando, principalmente, a valorização do espetáculo em oposição à informação. “Hoje, num jornal, encontramos 5% de informação verdadeira”, afirma Marcondes Filho. “O resto é ilusão”, completa. (...)

Como age a ilusão na comunicação?
A comunicação é eminentemente construída a partir da ilusão. Você fantasia seu mundo e esse mundo se traduz para os outros através da comunicação. O cerne da comunicação é o processo de ilusão.

A audiência e a concorrência favorecem a propagação da ilusão e do espetáculo?
Naturalmente. Para competir com os outros concorrentes, com os outros meios de comunicação, você tem que investir nisso. Agora, o investimento na ilusão pode ter um resultado positivo ou negativo. Você pode com isso servir para chamar a atenção das pessoas para os seus próprios problemas ou então levá-las para um mundo absolutamente estranho a elas.

A ilusão é uma necessidade das pessoas ou é uma imposição da imprensa?
O mundo é construído em termos de ilusão. A imprensa simplesmente joga com essa matéria-prima e transforma como ela quer. Transforma em um a matéria sensacionalista, transforma em um programa de televisão em que os policiais vão atrás dos marginais numa favela, transforma em uma telenovela.

O sr. traçou um perfil do jornalismo em seu livro. O sr. vê a possibilidade de mudança desse perfil?
É um perfil novo. Nós estamos diante de uma transformação muito grande na imprensa. A imprensa, hoje, está perdendo um pouco os contornos daquilo que a caracterizava no passado. Você se pergunta um pouco se a imprensa tem futuro. Fatalmente, vai mudar muita coisa. Fatalmente, vai mudar a posição do repórter, do redator, da própria organização do jornal. É difícil também a gente dizer que vai ser imprensa. É difícil a gente dizer que vai ser uma atividade jornalística também. Você vai ter uma produção de informação em que as pessoas vão ter um acesso diferenciado, totalmente novo ao que se conhece. E por que você se questiona se vai ser imprensa? Porque a gente está sempre associando a palavra imprensa a uma certa história passada da imprensa e do que foi o jornalismo no passado, que foi luta, que foi envolvimento com temas políticos, que foi relacionamento com conflitos, com revoluções. Hoje em dia essas coisas não pertencem mais ao nosso mundo. Nosso mundo praticamente não dá muito mais espaço a isso. Será que a gente pode chamar isso ainda de imprensa?

* Material produzido para a disciplina Técnica Redacional 1, ministrada pela professora Ana Rosa Gomes Cabello, no curso de Comunicação Social – Jornalismo da Unesp (Bauru), em 1996.

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