sexta-feira, 28 de dezembro de 2012 | |

A ausência escancarada*

A arte é pródiga em produzir efeitos de uma forma lúdica. Aliás, esta é a sua essência. Quando trata de temas delicados, esta característica torna-se ainda mais evidente.

Um bom exemplo é a exposição "Ausências Brasil", aberta no último dia 10 no Arquivo Público do Estado de São Paulo. Ela mostra - por meio de fotos aparentemente singelas, mas de uma dor e uma verdade impressionantes - famílias que tiveram parentes mortos pela repressão do regime militar (1964-85).

A exposição funciona assim: fotos antigas de família, nas quais aparece o parente morto pela ditadura ou desaparecido, são colocadas lado a lado de imagens atuais, feitas com as mesmas pessoas e no mesmo cenário. É quando a tal "ausência" que dá título ao projeto revela-se, desnudando também a face mais sangrenta e sombria do regime miliar. Evidencia-se um vazio dolorido, cruel, exposto de forma nua, embora delicada.

As imagens atuais foram captadas pelo 
fotógrafo argentino Gustavo Germano.



A mostra é promovida pela Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e organizada pela ONG Alice (Agência Livre para Informação, Cidadania e Educação). Uma versão do mesmo projeto já foi feita na Argentina, onde a ditadura deixou cerca de 30 mil mortos, conforme entidades como a Anistia Internacional.

“É um projeto político e estético ao mesmo tempo, algo que faltava no país”, disse Luciano Piccoli, coordenador do projeto na Alice, segundo notícia divulgada no site do Arquivo Público do Estado.

A exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9 às 17h, e uma vez por mês no sábado. A entrada é livre. O Arquivo Público do Estado fica na Rua Voluntários da Pátria, 596, ao lado da estação Tietê do metrô, em São Paulo.

* O título desta postagem é uma referência à obra "A ditadura escancarada", do brilhante jornalista Elio Gaspari, parte da trilogia sobre o regime militar brasileiro que tem ainda: "A ditadura revelada" e "A ditadura encurralada".

** As fotos foram retiradas do site do Arquivo Público do Estado. A primeira é de 1967 e traz Suzana Keniger Lisboa, Milke Waldemar Keniger e Luiz Eurico Tejera Lisboa. Em 2012, a foto sem Luiz Eurico.

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