quarta-feira, 17 de outubro de 2012 | |

A confissão do secretário

Quinta-feira, 24 de novembro. Mal amanhecera e uma movimentação estranha tomava conta de Limeira. Dezenas de homens da Rota (grupo especializado da Polícia Militar) e do Gaerco (grupo especializado do Ministério Público na repressão ao crime organizado) corriam para cumprir 12 mandados de prisão contra agentes públicos e particulares acusados de corrupção.

Entre os presos, a então primeira-dama Constância Dutra da Silva e os filhos do então prefeito Silvio Félix (PDT), Murilo e Maurício.

O império de Félix começava a ruir. Daí até a cassação do mandato do prefeito foram três meses – e pareceram três longos meses.

Naquela manhã de 24 de novembro, enquanto as estruturas do Edifício Prada (a sede do Executivo limeirense) e o mundo político de Limeira eram abalados por um verdadeiro tsunami, um secretário municipal pegava a estrada rumo à capital paulista. Lá, teria um encontro importante com representantes do governo estadual para tratar de sua área de atuação.

No caminho para São Paulo, o telefone celular do secretário tocou. O que ele ouviu do interlocutor parecia surreal. “Naquele momento ficamos sem chão”, comentou ao descrever o que sentiu ao saber da notícia sobre a prisão dos familiares do então prefeito e de alguns assessores diretos.

O fato rapidamente ganhou repercussão nacional. Tão logo chegou à repartição que visitaria na capital, o secretário foi abordado pelo anfitrião: “Já está sabendo o que está acontecendo na sua cidade?”, perguntou-lhe o interlocutor, membro do governo estadual. Infelizmente, o secretário sabia...

Com larga experiência na vida pública, o secretário certamente conhecia as denúncias que pairavam sobre o governo Félix publicamente há anos e, mais do que isso, já ouvira falar – em conversas de bastidores - das suspeitas que rondavam o Edifício Prada. Por que, então, decidiu permanecer num governo que, comentava-se à boca pequena no mundo político, não chegaria ao fim?

“Agora é fácil falar, mas o fato é que até aquela manhã de 24 de novembro o prefeito elegeria um poste”, respondeu de modo sincero.

Então foi puro interesse político?

“Sim. Se nada daquilo tivesse acontecido, a gente faria o sucessor.” Como consequência, explicou o secretário, todo o grupo que apoiava Félix sairia ganhando, mantendo-se no poder.

O secretário não foi o único a relatar que sua ação pró-governo esteve diretamente ligada ao interesse político. Um vereador admitiu, em conversa reservada, que também pesou em suas ações a disputa da eleição de 2012.

Conveniência cujo preço a vida cobrou. E ambos – secretário e vereador - pagaram.

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