sábado, 5 de maio de 2012 | |

A nova realidade americana (2)

Os Estados Unidos estão diferentes. Não sei dizer se para melhor ou pior. Em dois anos, desde minha última visita ao país, alguns aspectos mudaram. Notei desta vez, salvo uma ou outra exceção (por exemplo, a área histórica da Filadélfia, com muitos prédios fechados), que o número de imóveis “for leasing” ou “for rent” aparentemente caiu em relação a 2009. Ao mesmo tempo, cresceu espantosamente o número de pessoas pedindo dinheiro nas ruas. Em todas as cidades – e até no Canadá.

Pedintes eram uma cena inimaginável nos EUA há alguns anos. Já em 2009, quando lá estive, encontrei dois. Desta vez, porém, eram quase dois por quarteirão. Muitos. Em geral, de dois tipos: os “homeless” (ou seja, os sem-casa) e os “veterans” (os que dizem ser veteranos de guerra). Cheguei a ver uma jovem carregando um filho pequeno no colo dizendo ser sem-teto e pedindo ajuda. Cena triste e, repito, raríssima até alguns anos.

Também foi um tanto comum encontrar pessoas dormindo nas ruas -
em Nova York e Toronto (foto) lembro-me bem das cenas (não vou considerar os que encontrei em Nova Orleans porque provavelmente dormiam em razão de bebedeira).


Perguntei a um taxista em Las Vegas como estava a economia. “Ah, melhorou muito nos últimos tempos perto do que estava”, disse. Estranhei, porém, a pouca movimentação na cidade. Quando lá estive, em 1999, via-se uma “muvuca” de dia e à noite. Desta vez, a cidade ficou quase às moscas depois das 22h. Às moscas é um certo exagero, é verdade, mas se tratando de Las Vegas a manifestação faz sentido. Tudo bem que era terça-feira, mas trata-se de uma cidade que existe em função unicamente do entretenimento. Perguntei a um outro taxista e ele justificou dizendo que após um “big weekend” era normal a cidade esvaziar um pouco nos dias seguintes. Sei lá...

Em Atlanta, uma pessoa que nos acompanhava e era um tanto “habitué” por lá observou que o hotel estava vazio desta vez em relação aos últimos anos. Comentou isso com um garçom que a reconheceu de visitas anteriores. “Sim, está vazio, é a crise”, respondeu o funcionário.

Para nós, brasileiros, é um tanto difícil “ver” a crise, principalmente nas grandes cidades, com vocação mais turística. O nível de consumo do país continua muito alto, o estímulo às compras (com promoções e cartões de desconto por todos os lados) é incrível, quase insano. Ainda assim, a crise existe e é forte. “É que o nível de consumo deles há alguns anos era algo fora do comum”, comentou uma brasileira que morou por alguns anos na região de Michigan.

Seja como for, o país está fervilhando às vésperas de uma campanha eleitoral. A esperança Obama de ontem é uma realidade hoje, com realizações e decepções; a divisão entre democratas e republicanos (para simplificar as correntes políticas) segue acentuada. Obama continua sendo “acusado” de comunista pelos opositores, o “presidente mais esquerdista da história”, como vi em algum lugar.

Li no “Metro”, por exemplo, a carta de um leitor de Manville, Nova Jersey. Wayne Sargent criticava os gastos do governo Obama – dizia que foram maiores em três anos do que nos oito anos de George W. Bush. Os alvos? Os programas sociais Medicare e Social Security (Obama reformulou os programas, ampliando o acesso das minorias e, naturalmente, elevando os gastos com o bem-estar social).

No mesmo “Metro”, uma reportagem citava a acusação dos republicanos de que o déficit federal cresceu US$ 530 bilhões em relação a dez anos atrás.

A leitora Kathy Kourian, por sua vez, rebateu as críticas contra o atual presidente alegando que o custo da dívida se deve ao grande corte de impostos visando estimular a economia e às duas guerras (Afeganistão e Iraque) “que não feitos pelo Obama”. Ela manifestou ainda temor em relação ao futuro dos programas sociais caso o democrata deixe o governo.

São visões diferentes de um mesmo país eternamente dividido e que louva sua liberdade e democracia.

Assim seja.

PS: para ler "A nova realidade americana" (1), clique aqui.

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