quinta-feira, 1 de dezembro de 2011 | |

O caso Félix

Preferi aguardar a passagem do tsunami político que culminou no afastamento do prefeito de Limeira, Silvio Félix (PDT), para postar aqui algum comentário. Por três motivos: 1) esperar a poeira abaixar; 2) analisar a questão com mais racionalidade e menos emoção; e 3) estive fora por alguns dias e não pude escrever.

Agora, uma semana após a operação do Ministério Público (MP) e Polícia Militar que resultou na prisão de 12 pessoas (incluindo a então primeira-dama Constância Félix e os filhos do prefeito agora afastado, Murilo e Maurício), é possível analisar os episódios com mais tranquilidade.

O primeiro ponto a ressaltar é que não há nenhuma ação judicial instaurada contra o grupo e sim uma investigação. A prisão foi decretada pela Justiça com o objetivo de que as 12 pessoas não atrapalhassem as investigações.

Isto posto, é importante e necessário salientar que, embora o prefeito afastado não seja alvo da investigação nem mesmo a prefeitura, não há como cogitar a possibilidade de um eventual enriquecimento ilícito de sua família sem que isto passe pelo cargo que ele ocupava. Ou seja, por questões da administração municipal (a prática brasileira mostra que um eventual enriquecimento ilícito pode estar ligado a favorecimentos e superfaturamento em licitações).

É provável, portanto, que em algum momento a investigação chegue a negócios da Prefeitura de Limeira.

O segundo ponto a ressaltar envolve os bastidores políticos. Quem não os acompanha (ou seja, a ampla maioria da população) pode ter se surpreendido com algumas questões trazidas à tona pela investigação do MP. Contudo, quem sabe o que se passa além do “oficialismo” dos governos e das declarações públicas já tinha ouvido falar há anos de compras suspeitas feitas pela família Félix.

Era comum no meio político (e qualquer um poderá confirmar numa conversa de bastidores) ouvir histórias sobre eventuais negociatas. Registre-se que ouvir histórias não significa que os fatos tenham ocorrido e sim que as conversas existiam. Negar isso hoje é ser mentiroso.

Sendo assim, era previsível que em algum momento algo viesse à tona, ainda que – registre-se novamente – como foco de investigação. Para usar um ditado comum que se ouviu muito desde a última quinta-feira, Félix “abusou da boa vontade”.

Em suas entrevistas, o prefeito alegou ser rico desde antes de ocupar o cargo. Rico não é a palavra mais apropriada, o correto é milionário. É isto que o prefeito agora afastado pretendeu mostrar para justificar o atual patrimônio de sua família. Qualquer limeirense sabe, porém, que a história não é bem essa. Félix era um empresário bem sucedido sim, mas o crescimento do patrimônio de sua família nos últimos anos é espantoso.

De modo que ao MP coube a tarefa de ligar os pontos, tornar claras e numéricas as conversas de bastidores que se ouviam há pelo menos seis anos.

O fim da carreira política de Félix é melancólico (sim, eu estou sentenciando o fim da carreira política dele). A situação envolvendo sua família é humilhante. E o caso sequer foi parar na Justiça ainda na forma de uma ação judicial.

De todo este episódio, uma lição pode ser tirada: o Brasil, aos poucos, está mudando. O que se viu com a família Félix seria impensável anos atrás.

PS: não custa lembrar que as mesmas conversas de bastidores que se ouviam a respeito do prefeito agora afastado também ecoam em relação a outros membros da administração municipal (alguns deles devem estar morrendo de medo). É esperar para ver...

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