sábado, 14 de maio de 2011 | |

Terror em SP - 5 anos depois

Nos dias em que o Estado de São Paulo relembra os cinco anos do início dos ataques do PCC (Primeiro Comando da Capital), facção criminosa que domina os presídios paulistas, é interessante olharmos no retrovisor para tentar entender melhor o que ocorreu naquela antevéspera de Dia das Mães de 2006, buscar as causas daqueles dias de terror e buscar evitar que o episódio se repita.

Para isso, nada melhor do que recorrer a um estudo divulgado na última segunda-feira pela ONG (Organização Não-Governamental) Justiça Global Brasil em parceria com a International Human Rights Clinic, ligada à Universidade de Harvard. Intitulado “São Paulo sob Achaque – Corrupção, Crime Organizado e Violência Institucional em Maio de 2006”, o documento - de 245 páginas – aponta que os ataques do PCC revelaram que o Estado:

- Falhou ao permitir uma corrupção que fortaleceu uma facção criminosa;
- Falhou ao gerir seu sistema prisional realizando acordos com facções criminosas;
- Falhou ao não proteger seus agentes públicos;
- Falhou ao optar por um revide como resposta;
- Falhou ao acobertar os Crimes de Maio ou investiga-los de forma corporativista e;
- Falhou ao apostar novamente na expansão do sistema prisional como solução. (p. 3)

Indo ao encontro do que escreveu o ex-policial civil Roger Franchini no seu livro “Toupeira – A história do assalto ao Banco Central”, o relatório apresentado esta semana pelos dois organismos internacionais aponta que os chamados Crimes de Maio foram o “preço da corrupção, da fúria da violência policial e da falência do sistema prisional”.

“Colhemos provas reforçando o teor da denúncia divulgada pelos principais jornais paulistas de que a corrupção praticada por agentes públicos foi uma das principais motivações do PCC para realizar os ataques em maio de 2006. Especificamente, um esquema de achaques (extorsão), praticado contra familiares de líderes do PCC em 2005, foi fundamental para motivar o ataque coordenado pela facção”. (p. 4)

As extorsões, escreve Franchini no livro, estariam ligadas ao assalto milionário ao Banco Central de Fortaleza (CE).

O relatório reforça também a tese – também presente no livro de Franchini, mas sempre negada pelas autoridades – de que o governo paulista teve que negociar a trégua com o comando do PCC. “A maioria das rebeliões terminou às 16h do dia 15, após encontro entre a advogada e ex-delegada da Polícia Civil, Iracema Vasciaveo, (...) e Marcola. Esse encontro foi articulado pela cúpula do governo paulista que providenciou um jato da Polícia Militar como transporte para Iracema (...)”. (p. 55)

O mais grave, porém, é a constatação no estudo de que, cinco anos depois, as condições que levaram à onda de ataques que levou terror à população paulista continuam firmes e, em alguns casos, ainda mais fortes.

“Infelizmente, não surpreende que São Paulo hoje se encontre em uma situação igual, se não pior, do que estava na véspera dos Crimes de Maio. Esquemas de corrupção que sustentam o PCC persistem. Agentes públicos, e toda a sociedade paulista, continuam vulneráveis a novos ataques. A violência policial tem persistido em grande escala e o descontrole e condições desumanas do sistema prisional continuam contribuindo para a legitimação e persistência do PCC. Em resumo, a resposta do Estado aos Crimes de Maio não deu certo, pelo menos não para a população em geral.” (p. 3)



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