sábado, 14 de maio de 2011 | |

Lições de jornalismo (mais uma)

Livro importante para os jornalistas – e para quem fala com os jornalistas -, “O Jornalista e o Assassino”, de Janet Malcolm, foi lançado recentemente em versão de bolso no Brasil. Em entrevista à “Folha de S. Paulo”, a autora fala sobre as relações do repórter com seus entrevistados. Vale a pena ler (a íntegra pode ser acessada aqui).

A seguir, um trecho da entrevista, publicada no dia 2 de abril deste ano.

Folha - Em "O Jornalista e o Assassino", você diz que, frente a um repórter, "em nenhum caso o entrevistado consegue salvar-se". Por que você aceitou dar entrevista? 
Janet Malcolm - Normalmente aceito quando lanço livros. Além disso, gosto de me sentir do outro lado. Como entrevistada, entendi o poder que as perguntas têm. Você se sente na obrigação de respondê-las, como uma criança indagada pela mãe. É uma regressão à infância. 

Folha -
O livro diz que o jornalista apura com ar de "mãe permissiva" e escreve com a dureza de um "pai severo". Continua permissiva e maternal após "O Jornalista..."? 
Janet -
Talvez tenha me tornado mais paternal na apuração. Tento ser o mais direta possível. O jornalista não precisa ser tão amigável. As pessoas estão interessadas em contar suas histórias, independente da atitude de quem ouve. Mas tenho algo a meu favor: meu livro é uma espécie de "Miranda Warning" [aviso de Miranda: a lista de direitos que um policial, nos EUA, é obrigado a dizer a um suspeito quando o prende]. Por causa dele, as pessoas sabem o que esperar quando são entrevistadas por mim, que o tudo o que disserem poderá ser usado contra elas. 

Folha - Você diz que o encontro com o jornalista "parece ter, sobre o indivíduo, o mesmo efeito regressivo que a psicanálise". As profissões são parecidas?
Janet - Sim, no tocante ao elemento da confissão. A diferença é que as pessoas vão ao analista procurando ajuda e pagam por isso. O jornalista, como não recebe nada, não está lá para ajudar.

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