quarta-feira, 18 de maio de 2011 | |

"Carência afetiva 2.0"

Sempre se sofreu de solidão, de carência afetiva. Mas para uma turma cada vez maior, parece que o Facebook, com suas relações fechadas de amigos (só se entra mediante aceitação de alguém de dentro), aumentou a percepção de exclusão do pessoal "de fora".

Com o Twitter, o Flickr e o Instagram (de troca de imagens) somam-se bilhões de atualizações por dia.

Se, por um lado, isso produziu uma imensa montanha de textos, fotos, registros de áudio e informações acessíveis on-line a milhões de curiosos, voyeurs, inimigos e até amigos; por outro, serviu para jogar na sua cara as festas, os programas legais e as reuniões em que todo mundo está se divertindo demais. Menos você.

Ninguém precisa mais de fofoca para saber que não foi convidado para uma comemoração. Está tudo nas redes sociais. É só querer achar.

Os americanos, que são bons nisso, já deram nome para o fenômeno. Chama-se "Fear of Missing Out".

Eles já falam apenas Fomo, e todo mundo entende, de tão íntimos que ficaram do conceito (o Google tem 1.030.000 entradas para a expressão). Aqui, pode-se traduzir como "medo de ficar de fora, de estar perdendo algo." Quem já entrou numa rede social sabe bem o que é essa sensação.

"O problema é saber. Diariamente, recebo um zilhão de alertas, me avisando de que estou perdendo algo imperdível. Fico com dor de barriga de ansiedade. Mas o pior é que, toda vez que escolho um programa, logo depois descubro que o melhor é aquele a que não fui."

O depoimento é da publicitária paulistana A.P., 24, baladeira convicta, conectada 24 horas por dia, viciada no programa de troca de mensagens gratuitas WhatsApp, além do Facebook (em que coleciona 1.314 amigos).

Segundo o estudante e professor de inglês M.B., 27, 157 amigos no Facebook, as redes sociais, ao mesmo tempo em que aproximam as pessoas, acabaram aprofundando uma sensação de solidão. "Quando descubro na rede que uma balada muito legal está acontecendo, eu não consigo deixar de pensar que eu deveria estar lá também. Por que é que ninguém me avisou disso?", lamenta.

(...) "Sempre que dou um rolê nas redes, me sinto com saudades", afirma o professor M.B.. "É sempre incômodo lidar com as saudades quando você encontra pessoas com quem teve algum nível de intimidade no passado.

Sabe aquela amiga com quem você morou há anos, em uma república? Depois de dez anos, você, de repente, encontra-a em uma página do Facebook, e ela mora em outros lugares, está pensando outras coisas, tem outros amigos. É quase impossível um reconhecimento imediato; então você se dá conta de que perdeu aquela pessoa."

Segundo Caterina Fake, cofundadora do Flickr, o medo de estar perdendo algo é um velho problema que agora foi apenas exacerbado pela tecnologia. "O desejo é um dos três venenos do budismo", ela lembra (os outros são o ódio e a ignorância). Sempre foi assim, diz Fake.

Fonte: Laura Capriglione, “Folha de S. Paulo”, Tec, 18/5/2011, p. 1 e 6.

* Para ler na íntegra, clique aqui e aqui.

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