domingo, 15 de agosto de 2010 | |

B - I - C - I - C - L - E - T - A

Li recentemente o livro de David Byrne, “Diários de Bicicleta”. Fora o fato do título ser uma referência direta aos “Diários de Motocicleta”, de Che Guevara, o músico – que vive em Nova York – narra suas aventuras e desventuras sobre duas rodas mundo afora. Obviamente, ele defende a “magrela” como um saudável (ao indivíduo e à sociedade) meio de transporte.

Algumas cidades do mundo decidiram apostar nisso. Em várias localidades da Europa, por exemplo, a bicicleta domina a paisagem. Exemplo mais claro talvez seja Amsterdã. Boas ciclovias são encontradas também em Munique – para ficar em dois lugares que conheci e sobre os quais posso falar.

No livro, Byrne fala de Bogotá, na Colômbia. Segundo o músico, o ex-prefeito da cidade, apontado como responsável pela remodelação do município, foi aos poucos fechando algumas ruas para o trânsito. Isso fez com que a comunidade voltasse a ocupar esses locais – notadamente no Centro. Resultado: menos caos, menos poluição, menos estresse, menos violência, mais integração, maior sociabilidade, mais vida.

Locais antes entregues à degradação, ao abandono e à marginalidade passaram a ser ocupados por restaurantes, feirinhas e gente do bem.

Em Nova York, as experiências ainda são pontuais. Mas existem e caminham para, quem sabe um dia, o fechamento de ruas. Uma dessas experiências está ocorrendo justamente este mês. Trata-se do Summer Streets 2010. Ele acontece em três sábados consecutivos de agosto numa rota que liga a Brooklyn Bridge ao Central Park, com conexões em vias de pouco tráfego até o Hudson River Greenway, Harlem e Governors Island.

“Este evento pega um valioso espaço público – ruas da cidade – e abre para que as pessoas joguem, brinquem, divirtam-se, caminhem, andem de bicicleta e suem. O Summer Streets garante mais espaço para uma recreação saudável e é parte das iniciativas ecológicas de NYC para incentivar os nova-iorquinos a usar mais formas sustentáveis de transporte”, cita o site do projeto.



A iniciativa, segundo os próprios organizadores, seguem projetos semelhantes implantados ao redor do mundo, como em Bogotá e Paris. Está ligada a uma proposta lançada justamente por Byrne em 2007, quando Nova York sediou um encontro que teve a bicicleta como protagonista.

Não parece legal? É ecológico, saudável e reduz custos (na medida em que se polui menos e se exige menor quantidade de policiais para vigiar áreas antes entregues a marginais). Se grandes cidades estão fazendo, por que não Limeira? Por que não no Brasil? É preciso só uma coisa: coragem. Ah, e também uma boa dose de ousadia e criatividade.

Vamos tentar?

Para estimular os governantes e a sociedade, não custa lembrar da música de Toquinho:

Sou eu que te levo pelos parques a correr,
Te ajudo a crescer e em duas rodas deslizar.
Em cima de mim o mundo fica à sua mercê
Você roda em mim e o mundo embaixo de você.
Corpo ao vento, pensamento solto pelo ar,
Pra isso acontecer basta você me pedalar.

B-I-C-I-C-L-E-T-A
Sou sua amiga bicicleta.

Sou eu que te faço companhia por aí,
Entre ruas, avenidas, na beira do mar.
Eu vou com você comprar e te ajudo a curtir
Picolés, chicletes, figurinhas e gibis.
Rodo a roda e o tempo roda e é hora de voltar,
Pra isso acontecer basta você me pedalar.

B-I-C-I-C-L-E-T-A
Sou sua amiga bicicleta.

Faz bem pouco tempo entrei na moda pra valer,
Os executivos me procuram sem parar.
Todo mundo vive preocupado em emagracer,
Até mesmo teus pais resolveram me adotar.
Muita gente ultimamente vem me pedalar
Mas de um jeito estranho que eu não saio do lugar.

* A foto - de Gary Toriello - é da edição 2008 do Summer Streets, obtida no site oficial do projeto

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