sexta-feira, 19 de abril de 2019 | | 0 comentários

Uma entrevista com o Mago

Entrevista gravada em 2017 com o escritor Paulo Coelho para uma série especial de reportagens do "Jornal da Cultura" (TV Cultura):

Paulo, você abriu há pouco mais de um ano a sua fundação em Genebra e disse numa entrevista para a revista "Isto É" que foi a primeira vez que viu sua obra completa, em todas as línguas e ficou impressionado. Queria entender que sensação é esta de um escritor que bateu um recorde de 400 semanas na lista do "New York Times", que tem mais de 210 milhões de livros vendidos, é mais que a população do Brasil, né?!, como ainda fica impressionado?

Claro, porque eu nunca tinha visto os livros assim, corridos, né? É um corredor com 1.800 edições diferentes. Embora eu só tenha escrito 20 livros, enfim, tem diversas edições. Então, quando você entra e olha aquilo, diz "Caramba, isso tudo começou em Copacabana, com um livro que ninguém acreditava". Eu não posso perder essa alegria. Se eu perder essa alegria, se eu achar que é muito "blasè", que as coisas são normais, não! É um milagre, tem que ser considerado um milagre pra mim, eu fico meio maravilhado mesmo.

As citações de seus livros viraram uma espécie de mantra no mundo inteiro, frases saem aqui e acolá pra ajudar as pessoas. Você provavelmente já ouviu muitas histórias de leitores que foram influenciados pelo que escreveu. Tem alguma que te tocou?

Ah, tem muitas... A mais recente, vou contar a mais recente, é de um cara que era de uma gangue em Liverpool. Eu não sabia inclusive que mafioso não pode tirar férias. Se tirar férias perde o ponto. Esse cara foi lá pra Tailândia. Esse cara estava na cachoeira, pumba, caiu. E era morte certa, mas ele caiu entre duas pedras e aí ele sentiu aquela proximidade da morte e ouviu uma voz dizendo que ele tinha que buscar um livro. Então, nesse interior da Tailândia, ele foi lá numa lojinha. Enfim, ele não sabia que livro era. Ele pegou o meu livro. Era meu livro - ele achou a capa meio de criança. Leu. Terminou fazendo o Caminho de Santiago e veio me entregar uma camisa do Gerrard (risos), que é um jogador do Liverpool, era aliás. Eu fiquei muito comovido com essa história.

Você falou na sua resposta anterior em "milagre". Agora conta uma história em que a pessoa ouve uma voz ou algo assim dizendo para procurar um livro e chega ao seu livro. Crê mesmo no aspecto transcendental de tudo que realizou?

Ai, que pergunta difícil! Eu não sei. Bom, eu creio em milagres, eu particularmente creio em milagres. Eu não acho que seria possível tudo o que aconteceu na minha vida sem a presença de um milagre, da proteção, de honrar o que eu estou fazendo também, porque você pode imaginar que é muito fácil, enfim, ficar achando que isso tudo é normal. Mas não é! Isso tudo, saber que as pessoas encontram o seu livro em qualquer lugar, que reverencie e celebre o que de bom acontece na sua vida, eu particularmente acredito em milagres e acho que o trabalho de todos nós, de uma maneira ou de outra, se a gente esttá fazendo com amor, ele é guiado pela energia divina.

Eu tive a oportunidade de ir para alguns países e me deparar, naquela ânsia de brasileiro de querer ter alguma referência do seu país, com livros seus em vitrines de lojas. Em que momentos você se sentiu mais "embaixador" do Brasil?
Acho que não sou eu, é o meu livro né. Eu resolvi parar de viajar, virei ermitão, já viajei muitos anos na minha vida, desde que eu era hippie até 2010. Cheguei aqui em Genebra e parei. Eu particularmente não frequento nenhum lugar para falar do Brasil, acho que o livro transcende. Curiosamente o livro não fala do Brasil, mas todo mundo acha que o livro é brasileiro. Eu achava que as pessoas iam pensar que o autor é espanhol, que o autor é suíço etc, mas não, todo mundo sabe que é brasileiro. O MediaLab, que é do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), me coloca como o brasileiro mais conhecido do mundo, o que me orgulha muito.

Você falou aí do seu recolhimento, eu queria que descrevesse um pouco como é sua rotina em Genebra. Pensa um dia em voltar a morar no Brasil?

Não chega a ser um recolhimento. Sim, penso em voltar a morar no Brasil, mas não agora, né! Convenhamos, convenhamos...! Principalmente meu bairro, que é Copacabana, tá complicado. E é o seguinte: O que eu faço todo dia é sair, normalmente A essa hora porque no verão é infernal, com 35 graus. Ir pras florestas e não pensar em nada. Ficar à vontade. Aí vou até o tempo que for necessário. Eu e minha mulher. Tenho convivido muito com minha mulher. Uma vez ou outra eu convido alguém pra jantar. Não aceito convites pra jantar e pronto, é isso! (risos) É uma rotina mesmo. Sendo que a parte que eu não gosto desta rotina é acordar muito tarde, porque como eu sei que não vou fazer nada de manhã eu termino acordando muito tarde.

Qual o tamanho do desafio de ser o "Mensageiro da Paz" no mundo de hoje?
Ai, difícil. Eu tive com dois secretários-gerais (da ONU) até agora, que me nomearam. São 12 mensageiros da Paz apenas, e a gente o que está acontecendo? As nossas mãos, de certa maneira, estão atadas, porque a ONU, por mais que ela tente fazer alguma coisa, ela depende da boa vontade dos países que fazem parte dela. Então, às vezes a gente não consegue nada e às vezes a gente consegue. Eu agora fui convidado em setembro pra ir para um barco pelo Mediterrâneo pra recolher refugiados. Eu estou seriamente tentado a sair da minha rotina e fazer isso - e também pra escrever sobre isso.

É uma pergunta clichê, mas conversando sobre o que as pessoas gostariam de saber de você, a minha chefe disse: "leio Paulo Coelho há muito tempo e os livros deles sempre saem com milhões de exemplares. Eu queria perguntar pra ele se ele tem noção se é uma mesma geração, se são novas gerações que vão sendo agregadas... Qual é o segredo disto?"
Não, não, a resposta pra ela é a seguinte: o primeiro livro saiu há 30 anos, né, "O Diário de Um Mago", 1987, nós estamos em 2017, são 30 anos, então vai se renovando. Houve um momento, lá pelo ano 2009, que as vendas pararam. Pararam, eu digo, alguns milhões só por ano. E de repente a coisa voltou, retornou. Eu não sei se foram as redes sociais... Vamos dizer que em 2008 e 2009 não teve - e talvez a falha tenha sido minha - porque eu escrevi um livro que as pessoas odiaram, que foi "O Vencedor está Só", mas se mantiveram estáveis ou cresceram.

Quem você lê? Quem o inspira ainda hoje? 

Ah, leitura pra mim é básica, né. Eu não consigo deixar de ler. Infelizmente, o mercado no mundo está caindo. No Brasil, de 2016 pra cá, caiu 16% exatamente. É triste, é triste! As pessoas estão lendo cada vez menos. Eu leio todo dia. Eu não consigo viver sem ver um bom filme e sem ler um bom livro todo dia. Quer dizer, um livro inteiro não. O que que eu estou lendo agora? Um escritor chamado Gay Talese, que é responsável pelo novo jornalismo, essas coisas todas. Eu li a obra completa do Gay Talese, exceto o que eu estou lendo agora, que se chama "Honra o teu Pai". Eu não sei se está traduzido. É uma história que ele está escrevendo, ele é um jornalista, ele criou esse estilo. O que ele escreveu de mais clássico se chama "Frank Sinatra está Resfriado", ele foi mandado pra Espanha, na época que se tinha dinheiro pra mandar jornalista pra viajar, pelo tempo que fosse necessário, a chamada grande reportagem. E o Frank Sinatra não quis dar entrevista, então ele escreveu essa obra-prima chamada "Frank Sinata está Resfriado", e esse é sobre um mafioso chamado Joe Bonanno, "Honra o teu Pai". Mas escreveu coisas maravilhosas. Eu prefiro a não-ficção à ficção.

Eu queria recorrer a uma imagem que vi pra perguntar sobre outra sensação, mais curiosa. Vi uma foto sua pro "El País" em que aparece mergulhado nos seus livros. Só se vê o seu rosto. Qual a sensação física de estar tomado pelos livros?

Essa imagem... Acredite se quiser, essa imagem de eu cercado pelos livros ela é de 1992. Imagine se fosse hoje. Hoje, eu estaria sufocado (risos) e seria envolvido pelos livros, amassado pelos livros.


Na sua biografia escrita pelo Fernando Moraes, tem um episódio da visita ao Palácio de Buckingham, em que houve uma certa dúvida sobre o traje da comitiva brasileira e você foi informado que seria um convidado especial da rainha. De alguma forma, transcendendo o país, as fronteiras, a representatividade nacional. O que significa isso?
Ou transcendendo ou a falta de educação do Lula e do PT, né. Quer dizer que infelizmente, eu tenho uma obra social no Pavão-Pavãozinho, o Lula passou na porta e não entrou. Se tivesse entrado, quando ele era presidente né... Eu só vim descobrir que eu era convidado da rainha quando a comitiva brasileira resolveu ir de terno e gravata. E eu já querendo evitar aquele negócio de fraque, né, disse "ai que bom, vou de terno e gravata." Foi aí que eu perguntei e descobri que eu era convidado da rainha. Foi um momento aliás, muito interessante. Quando você fala de ser embaixador do Brasil, eu sou embaixador não-oficial, extra-governos. Porque os governos, infelizmente, são catastróficos.


Você não gosta muito de falar sobre política, mas em dois momentos citou sua cidade, que vive uma situação difícil, e agora o país. O que diria aos brasileiros que procuram na sua obra uma manifestação de esperança?

Mas eu tô falando com a TV Cultura, a TV Cultura é governo, então eu vou guardar as opiniões pra mim. 
(risos...) Isso dito, pena, que pena, né! O Brasil vai inteiro, entende. Aquele país que era adorado, que era admirado, não pense o governo que a coisa não ultrapassa as fronteiras... Ela ultrapassa e é essa tristeza. Eu já vi países, não apenas o Brasil, pouco a pouco irem caindo... eu não diria nem no ostracismo... Você vê a Venezuela hoje, você vê Brasil, você vê a Síria... A Síria é um país maravilhoso, entende? Você vê outros países que pouco a pouco vão perdendo a importância. E não se enganem, não: vai demorar muitos anos pra recuperar. Não é uma coisa que amanhã muda o presidente e muda tudo, não! Isso daí nós estamos falando de 20 anos, no mínimo, pra recuperar, se for possível.

Queria voltar ao começo da sua história. "O Alquimista", seu livro de maior vendagem, é um fenômeno literário do século 20. Isso é algo extraordinário. Pergunta clichê: tinha ideia lá atrás que chegaria onde chegou?

Óbvio que não. Agora, que eu queria chegar eu queria (risos). Óbvio que não, chegar aonde eu cheguei, meu amigo, só se eu fosse um megalomaníaco aí - que eu sou, que eu sou! Mas graças a Deus eu cheguei. Voltando à sua pergunta logo no início da entrevista, quando eu olhei aquelas 1.700 edições dos meus livros, fiquei tão surpreendido, você não tem noção! Você sabe que é famoso, sabe que vendeu 210 milhões de exemplares. Ora, 210 milhões de exemplares significam 600 milhões de leitores. Se eu vou a uma festa com 100 pessoas eu já fico meio claustrofóbico, ter que conversar com todo mundo! Imagina 600 milhões de pessoas! Então é uma coisa muito abstrata.

Passei dois dias, desde que você aceitou nosso convite, pesquisando e lendo e confesso que a maior dificuldade era saber exatamente o que te perguntar. Você já deu muita entrevista, por mais que seja ainda meio avesso, tem muitas falas suas, escrevia muito em jornais... Fiquei pensando: "o que será que nunca perguntaram pra ele e ele queria poder falar?" Tem algo que nunca lhe perguntaram e você queria poder falar?

Não. Não tem, inclusive esta mesma pergunta que você faz agora já foi feita por vários jornalistas muitas outras vezes 
(risos). Então, pra mim, a entrevista hoje em dia é absolutamente - tô dando porque, enfim, acho importante vez por outra me comunicar com meus leitores brasileiros, mas não é uma coisa que vá vender livros, por exemplo. Você vê que a maior vendedora de livros no mundo, J. K. Rowling, se a gente falar Harry Potter, tudo bem, mas J. K. Rowling não. 

É que talvez a gente sinta falta de ouvi-lo de vez em quando...
Eu cheguei na Polônia, num ano sabático, eu disse: "não vou fazer nada", em 96. O livro tinha acabado de sair na Polônia. Eu cheguei lá, não achava o livro em livraria nenhuma. Eu vi um, mandei perguntar se estava vendendo bem. Aí, pela gesticulação, eu entendi que não estava vendendo nada. Bom, passaram-se dois anos. E dois anos depois eu voltei à Polônia. Quando abriu a porta do aeroporto tinha, como dizer, era como se a Madonna tivesse chegando, entende? Tinha todas as televisões, todos os jornais, essas coisas todas. Ora, o que mudou? Mudou que eu era uma pessoa famosa agora, muito famosa na Polônia. E antes ninguém me conhecia. Você foi feliz, perguntou sobre minha carreira, mas os caras estão interessados em outras coisas, inclusive às vezes na política interna do país. Eu fui pra Geórgia: "O que q você acha da invasão da Rússia?". Eu não posso falar sobre essas coisas. Eu não nasci na Geórgia, entende, eu não sou russo. Eu tenho que me limitar. O que você pensa do Trump? "Amigos, isso é com os americanos". A não ser que a coisa fique muito grave. 

Até em razão de tudo isso, agradeço muito a gentileza de ter aceitado esse papo com a gente. Sei do seu tempo e da sua aversão a entrevista. Muito obrigado mesmo. 
Te agradeço muito também por esta oportunidade de poder falar com os telespectadores da TV Cultura. Um forte abraço, hein.

Precisa depois reaparecer aqui no Roda Viva"...
Porra, "Roda Viva" já fiz vários, mas faz tempo que não faço... As duas entrevistas que dei ano passado, os livros venderam igual. Vocês viram a entrevista? Tem trechos no ar. As duas foram para um programa, "CBS News Sunday". Às vezes você tem que fazer uma média com o editor... Um grande abraço, muito obrigado. Que Deus te abençoe aí.

sábado, 1 de outubro de 2016 | | 2 comentários

Recordar é viver - Eleições 2012

Primeiro debate com os candidatos a prefeito de Limeira em 2012 - TV Jornal:



Segundo debate com os candidatos a prefeito de Limeira em 2012 - TV Jornal:

sexta-feira, 30 de setembro de 2016 | | 0 comentários

Série IFA 2016 - o admirável mundo novo da tecnologia

sábado, 20 de agosto de 2016 | | 0 comentários

Museu da Imigração

O belo jardim e o prédio histórico aberto em 1887 para receber os imigrantes chamam a atenção na divisa entre o Brás e a Mooca, na zona leste de São Paulo. 


Lá dentro, kits de barbear, objetos médicos, placas e fotos lembram as primeiras atividades dos dois milhões e meio de estrangeiros que passaram pela hospedaria em quase um século: o controle de saúde e o registro. Búlgaros, portugueses, ucranianos, japoneses, italianos, alemães... Pessoas que deixaram suas origens e se aventuraram em longas viagens até uma terra distante e desconhecida. ]


“Migrar, passar de um lugar para outro, uma definição que não consegue traduzir a força e a importância desse ato que é inerente ao ser humano.” O museu - aberto em 1993 - mostra de modo didático como as migrações contam a história da humanidade há dois milhões de anos.





No final do século 19, o governo brasileiro incentivou a criação de núcleos coloniais para atrair mão de obra. A maior parte dos imigrantes teve a hospedaria como primeiro abrigo. 



Os refeitórios e dormitórios são reproduzidos hoje no museu ao lado de móveis e máquinas do passado. Nas cartas, como a da esposa italiana para o marido, os registros da nova vida e a da saudade. 






“As pessoas estão muitas vezes procurando entender o próprio percurso. A gente é eternamente um país novo , mas a gente é um pais que tem uma boa história e o museu de fato traz essa contribuição para essa construção dessa identidade, mesmo no nível mais individual”, diz Marilia Bonas, diretora executiva do Museu da Imigração.



O museu abre de terça a sexta, das nove às cinco da tarde, e aos sábados, domingos e feriados das dez às seis.

* Texto original de reportagem feita para o programa "Ordem do Dia" (TV Cultura, sex. 23h30, sáb. 8h30)

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Jornalismo espetáculo

Para entender um pouco mais sobre como o jornalismo virou espetáculo, lembrando Guy Debord, e como a forma está se sobrepondo ao conteúdo - aqui.

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Movimento Boa Praça ("Ordem do Dia")

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Memorial da Resistência

Na exposição temporária, a história do prédio de 1914 criado como armazém e escritório da antiga estrada de ferro sorocabana e que sediou a partir de 1940 o temido Dops. Um lugar marcado pelo sangue de muitos brasileiros, como cita a placa. 


No vídeo, a trajetória de um dos principais órgãos de polícia política do país, criado em 1924 e extinto no fim do regime militar. “Ele foi inaugurado em 2002 como Memorial da Liberdade, mas como não havia atividades educativas e culturais, mais ou menos em 2006, 2007 os ex-presos políticos solicitaram ao governo do Estado que o lugar fosse melhor aproveitado em termos educativos e culturais. Nós queríamos, de fato, trabalhar neste lugar de memória um conceito de resistência, porque ela não pode ficar só lá no passado, é uma coisa atual e que deve continuar no futuro. Neste lugar as pessoas podem tomar conhecimento de fatos que aconteceram no Brasil recente, então ela pode se educar para cidadania, para valorização dos princípios democráticos, do respeito aos direitos humanos”, diz Katia Regina Neves, coordenadora do memorial.

Em uma sala, uma linha do tempo histórica mostra casos de repressão e resistência desde a proclamação da República, em 1889. Episódios que nem a redemocratização do país impediu, como o assassianto do líder seringueiro Chico Mendes em 1988, as chacinas do Carandiru, em 92, da Candelária e de Vigário Geral em 93 e o massacre de Eldorado dos Carajás em 96.

O ponto alto da visita são as celas que abrigaram presos políticos. Uma delas reproduz o ambiente na época da ditadura. Os rabiscos na parede são atuais, um grito silencioso de quem sobreviveu. Nas celas, o som da abertura da porta indicava o destino de cada um. 





As máscaras representam 436 desaparecidos políticos. “Muitas continuam desaparecidas até hoje. E outras morreram em consequência da tortura." Aqui, como diz o painel, lembrar é resistir. 


“Isso é tão impressionante porque eu acho que as pessoas , quando elas visitam o memorial, conseguem entender isso, se a gente olhar, por exemplo, no livro de visitas que as pessoas deixam comentários, falam assim: ‘as pessoas falam que deveria voltar a ditadura porque não conheceram este lugar, eles não falariam um absurdo desses’. É impossível uma pessoa sair de um lugar como este, se ela tiver disponibilidade para aprender, e para perceber o que é você viver numa ditadura, etc, que ela não se eduque para ser um cidadão de fato, que exija seus direitos, mas também que respeite o direito dos outros”, fala Katia.
 
 

O Memoria da Resistência fica no largo General Osório, 66, junto da Estação Pinacoteca. A entrada é grátis. 
* Texto de reportagem feita para o programa “Ordem do Dia” (TV Cultura, sex. 23h30, sáb. 8h30)

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O caminho mais fácil para a audiência (2)

escrevi neste blog que existe um caminho - ou vários - fácil para a audiência. O chamado "jornalismo justiceiro" é um destes caminhos. É o que se viu com uma equipe de um programa policial que forçou a entrada num hospital público, onde sabidamente é necessária autorização para captação de imagens (a não ser que o assunto justifique o uso de câmera escondida, o que deve ser exceção da exceção). 

Para quem não sabe como funciona a imprensa, pode parecer corajosa e ousada a atitude da repórter. Quem faz jornalismo sério, porém, sabe que o caminho escolhido não é o adequado. 

A questão é saber se o público faz essa distinção. Por mais que muitos tendam a dizer que não, arrisco-me a afirmar o oposto. Pode-se argumentar que tais programas dão audiência. É verdade. Há uma boa parcela da população que responde a esse tipo de chamado sensacionalista. Mas e quanto a todos os outros programas que estão sendo exibidos no mesmo horário? E quanto aos que não assistem a nada? Não será um número maior? Certamente é.

O caminho fácil para audiência mostra-se, portanto, limitado. Para quem quer ir além das migalhas tradicionais no Ibope pode funcionar - mas deve-se saber que nunca se chegará ao topo pela via mais fácil.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016 | | 0 comentários

"Ordem do Dia" - Guarda Compartilhada

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"Ordem do Dia" - Inclusão do deficiente

domingo, 7 de fevereiro de 2016 | | 0 comentários

As 20+ do Instagram

Recentemente, atingi a marca de mil fotos postadas no Instagram - uma das poucas redes sociais a que aderi, motivado pela paixão por fotografar e pela oportunidade de compartilhar registros do cotidiano.

Desde o início não me propus a ficar postando fotos pessoais, embora eventualmente elas tenham aparecido. 

Sempre pensei em criar uma espécie de "exposição" virtual, aqui no blog, com as dez melhores fotos das mil que postasse. Confesso que foi muito difícil escolher - impossível eu diria, visto que o resultado final a seguir tem 20 fotos (o que representa 2% de tudo o que postei).

O principal critério para a escolha das fotos foi o artístico (havia fotos mais bonitas, mas o cenário embelezava a imagem por si só, o que reduzia o valor da arte de fotografar). 

Espero que gostem da minha seleção:
















 


 

Em tempo: para me seguir no Instagram é só clicar aqui.

sábado, 6 de fevereiro de 2016 | | 0 comentários

A reportagem que não exibi

Nunca vi com bons olhos os famosos programas policialescos que atraem audiência - e, em alguns casos, dinheiro - para as emissoras. Até que me vi no epicentro de um deles.

Por dois anos, apresentei (não digo comandei porque minha participação na produção era mínima) um desses programas no interior de São Paulo. Foi uma experiência rica do ponto de vista de aprendizado (para colocar em teste todas as teorias e [pre]conceitos que tinha em relação ao formato).

Naturalmente, continua o reprovando de modo geral. Há um apelo barato e por vezes desrespeitoso, uma temática que pouco estimula a reflexão ao tratar a violência pela violência, sem contar o tom justiceiro e, em muitos casos, o desrespeito às leis - um levantamento divulgado recentemente apontou 12 leis afrontadas por diversos programas no país.

Claro que, ao assumir um programa com tais características, procurei na medida do possível mudar o tom. Não sou a pessoa mais adequada para dizer se isto foi alcançado (embora tenha ouvido depoimentos nesse sentido de muitos telespectadores).

A quem me pergunta, porém, costumo dizer que minha maior vitória à frente do programa foi justamente o que não foi exibido. 

Um episódio singular exemplifica isto: certa vez, recebi um telefonema na Redação dando conta de que um homem estaria vivendo numa casa com um cavalo. Detalhe: o cavalo não ficava no quintal, e sim dentro do imóvel. Quem fazia o relato era um vizinho preocupado com a situação do homem, um jovem.

Dirigi-me até o endereço com o cinegrafista e confirmei a situação. O jovem vivia de fato com o cavalo, que tinha um quarto à disposição, cheio de feno (ou algo semelhante). Em resumo, o rapaz era usuário de drogas e tinha sido de alguma forma "abandonado" pela família, que não aguentava mais cuidar dele. Coloquei aspas no verbo porque a família dava um dinheiro ao jovem, ou pagava o aluguel do imóvel (não me recordo). 

Fiz as imagens e entrevistei o jovem. Ele admitiu o uso de entorpecentes, criticou a família e disse que o cavalo era seu melhor amigo. Também cobrou a antecipação por parte de familiares de uma suposta herança (ou da parte que supostamente lhe caberia). 

A cena era indigna e degradante. Um homem dividindo um espaço sujo com um cavalo.

Ao chegar à Redação, entrei em contato com um parente e relatei o caso. Ouvi que "não adiantava ajudá-lo, que a família já tinha feito de tudo e tentado de tudo, mas que o jovem não tinha jeito". Também ouvi que os familiares ajudavam com pagamento de contas de água, luz ou algo assim e que a suposta herança não podia ser paga simplesmente porque não existia (não naquele momento).

Refleti muito se deveria ou não colocar a reportagem no ar. Conversei com alguns colegas. Pensei de que forma exibir o material contribuiria com aquele rapaz e com a promoção da cidadania. Não encontrava respostas satisfatórias. Até que ouvi de um colega a senha para a decisão. Disse ele: 

- Se for pro ar, será apenas mais uma dessas reportagens.

De tantas semelhantes que o programa historicamente tinha feito.

Naquele momento, diante daquela manifestação, eu - ainda no início de minha participação como apresentador - decidi que o material não seria exibido. E não foi.

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"Ordem do Dia" - Direito Esportivo

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A violenta América Latina

Algo de errado acontece na América Latina que a faz ter nada menos que 42 cidades entre as 50 mais violentas do mundo, conforme ranking divulgado recentemente.

Tenho impressão que isto tem a ver com o nosso processo de colonização, que levou a desigualdades gigantes e gritantes, reforçadas pelos coronelismos e pelo histórico populismo.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016 | | 0 comentários

Democracia não é valor absoluto

IMPORTANTE: esta análise não se propõe a discutir o mérito dos métodos usados pela Polícia Militar para dispersar manifestantes (eu particularmente acho abusivo o recurso das bombas quase que “de ofício”, como primeiro ato, mas esta – como registrei – é outra questão).

Democracia não é um valor absoluto – como sequer o é o direito à vida (vide a previsão legal de aborto em determinadas situações, bem como a da retirada de órgãos diante do registro de morte cerebral).

Pois bem: não sendo uma democracia um valor absoluto (embora nobre), não se pode considerar como direito de qualquer cidadão fazer o que se deseja. Vier em sociedade – e numa democracia – implica OBRIGATORIAMENTE seguir regras determinadas por esta mesma sociedade.

No caso dos protestos de rua, a Constituição da República Federativa do Brasil é clara em seu artigo 5º, inciso XVI:

XVI - todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente (grifos meus)
 

Neste sentido, como a PM havia alertado por volta das 17h aos manifestantes do Movimento Passe Livre, não seria possível seguir o trajeto pretendido (divulgado pelo MPL duas horas antes via redes sociais – a lei não especifica qual o tempo necessário do “prévio aviso”) visto que outro ato ocorria na mesma região.

Ainda assim, o movimento insistiu no percurso (decisão que resultou no ataque da PM – que, repito, não é discutido no mérito desta análise).

Só não se pode falar, como manifestou uma representante do MPL, que a PM impediu o direito de manifestação.

A corporação exigiu apenas o estrito cumprimento do que prevê a Constituição. Aquela mesma citada frequentemente por manifestantes como garantia do direito de manifestação. Esquecem estes, porém, que este direito tem regras previstas na própria norma constitucional.

Não dá para considerar só o que interessa. Nas duas ocasiões anteriores (quarto e quinto protestos do MPL), em que as regras foram seguidas, não houve ataques da PM ou confronto.

Democracia, repito, não garante o direito de se fazer o que se quer impunemente.