quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015 | |

3 anos após cassação, Félix diz que apostava na absolvição

Em razão do trabalho, fui ao MIS (Museu da Imagem e do Som), na badalada avenida Europa, em São Paulo, no último dia 23 de janeiro. Eram dez horas da noite quando disse o tradicional "É com você no estúdio" com o qual encerro minhas entradas ao vivo no "Jornal da Cultura". Mal me despedi e vi, à direita, uma figura familiar. Os milésimos de segundo que separaram a dúvida da certeza se deveram unicamente à quase impossibilidade de encontrar tal pessoa naquele momento e lugar. Mas estava lá: Silvio Félix da Silva.

O ex-prefeito de Limeira chegara naquele momento, meio perdido, manifestando a intenção de visitar a exposição que celebrou os 20 anos do "Castelo Rá-Tim-Bum", programa infantil exibido com sucesso pela TV Cultura. Disse-me que tinha ouvido que a mostra ficaria aberta de madrugada. Expliquei que isto ocorreria apenas no fim de semana, e não naquela sexta-feira.

Antes, naturalmente, ocorreram tradicionais e educados cumprimentos, com manifesto espanto de parte a parte pela surpresa do encontro. O prefeito cassado explicou que tinha acabado de deixar a Assembleia Legislativa, onde a esposa e ex-primeira-dama Constância dava expediente como futura deputada-tampão. Como primeira suplente do PDT na eleição de 2010, ela assumiu no último dia 1° de fevereiro uma vaga no Parlamento estadual no lugar do então deputado Major Olímpio (PDT) - que tomou posse na Câmara Federal.

Como a posse dos estaduais ocorre apenas em 15 de março, Limeira voltou a ter, mesmo que por apenas 45 dias e de modo meramente protocolar, um representante na Assembleia após 16 anos. "Ela está lá no gabinete dele (Olímpio)", citou Félix.

Foi a deixa para que eu entrasse nos assuntos políticos. Tinha duas curiosidades. A primeira era saber se o prefeito cassado ainda tinha disposição para permanecer na política. Ele não negou de imediato e com a veemência que eu imaginava. "Ainda estou filiado ao PDT", respondeu. A saída pela tangente na prática quis dizer que ele não pensa em "pendurar a chuteira".  

Contudo, Félix foi claro ao dizer que sua prioridade é se defender na Justiça das acusações de improbidade administrativa e enriquecimento ilícito da família - que levaram à perda de seu mandato na fatídica e tumultuada noite de 24 de fevereiro de 2012. “Minha maior vitória neste momento é na Justiça, não na política”, disse.

Félix contou que acabara de vencer um processo envolvendo a contratação da empresa Prime durante seu governo. Afirmou que há outras ações em que ainda se defende. Para minha surpresa, reconheceu o papel do Ministério Público na avalanche que atingiu sua carreira política e, de modo direto, sua vida. “O Ministério Público fez o papel dele, o meu agora é me defender, é assim que as coisas têm que ser”, comentou.

O ex-prefeito lembrou, num misto de sobriedade e resignação, que está inelegível até 2020 em razão da suspensão dos direitos políticos decorrente da cassação do mandato. Depois disso, resolvidas as pendências judiciais, disse com bastante cautela que pode até pensar em se candidatar a algum cargo. É novo, terá apenas 56 anos quando a punição se encerrar.

Minha segunda curiosidade era a que mais me aguçava. Diante do quadro que se desenhou nos dois dias que durou a sessão de julgamento pela Câmara Municipal, perguntei a Félix se ele realmente acreditava que poderia ser absolvido.

Parêntese necessário: a cassação dependia de dez votos de um total de 14 vereadores, sendo que a base governista, como regra no país, era maioria no Legislativo, embora esfacelada diante do escândalo político que envolveu até a prisão da primeira-dama e dos dois filhos do então prefeito na manhã de 24 de novembro de 2011.

Outro parêntese necessário: a pergunta martelava na minha cabeça por causa da reação de absoluta decepção do então prefeito diante do voto de um dos vereadores – Carlos Rossler, um dos dissidentes da base governista na ocasião. Quinto a votar naquela noite de 24 de fevereiro, Rossler bradou – para delírio da plateia que lotava o auditório da Câmara Municipal – um sonoro e histórico “Não!!!” (que significava sim à cassação). Em tese, Félix ainda teria chances, mas preferiu abandonar o plenário naquele momento, sem esconder seu inconformismo com o que considerou uma traição, tendo deixado de imediato o Legislativo sem esperar o resultado final da votação que lhe tirou o comando da prefeitura.

Não sei exatamente a razão, mas a resposta do ex-prefeito mais uma vez me surpreendeu. “Sim. Eu achava que teria mais dois votos”, falou. Perguntei se ele se referia ao então vereador Antônio Braz do Nascimento, o Piuí, peça-chave na cassação. “Sim, e também o Rossler”, acrescentou.

Comentei com Félix que Rossler havia contado à imprensa na ocasião que, momentos antes da votação, durante breve encontro na sala de reuniões atrás do plenário, ele havia dado ao então prefeito um sinal de positivo. Foi, segundo o então vereador, um “truque” para esvaziar uma eventual pressão que poderia ser feita contra ele – a estratégia parece ter dado certo, já que Félix admitiu que contava com o voto de Rossler.

O ex-prefeito comentou que a posição de Piuí poderia ser compreendida diante de suposta ameaça (ou coação) que teria sido feita por promotores dias antes da sessão de julgamento na Câmara contra o então vereador governista (que havia, inclusive, votado a favor do prefeito na Comissão Processante que antecedeu o julgamento da cassação). “Isto está com o Rodrigo Janot (procurador-geral da República) em Brasília, está sendo investigado”, contou Félix. “Foi você que denunciou?”, perguntei. “Sim”, respondeu o ex-prefeito.

Durante os cerca de 15 minutos do inusitado encontro, houve tempo para comentar a situação de Americana, que também teve o prefeito Diego de Nadai cassado e vive um caos administrativo após nova eleição tampão. Tempo suficiente para Félix, mais uma vez, de modo surpreendente, elogiar o Ministério Público de Limeira. “Se em Americana tivesse os promotores de Limeira não tinha acontecido isso lá”.

***

E como manifestações surpreendentes não faltaram naquela noite no MIS, Félix se despediu dizendo que, "apesar das desavenças", estava muito feliz em me reencontrar...

2 comentários:

Filipe Soisa disse...

Este texto me fez lembrar um do Milton Neves publicado na revista Placar, acho que em 2006 ou 2007. Na oportunidade Milton Neves estava no casamento do jogador Robinho e se sentou em uma das mesas com o Dunga, que naquela oportunidade era o técnico da Seleção Brasileira. O treinador conversou por longo tempo com Milton Neves, que, logo que teve oportunidade, escreveu tudo o que a memória guardou do diálogo e as colocou em um texto que tempo depois foi publicado pela revista. A visão, a memória e o ouvido do jornalista se fortalecem diante de uma situação dessas... Como eu gostaria de ter uma oportunidade assim!!! Quem sabe... rsrsrsrs

Parabéns Rodrigo Piscitelli! Sempre que posso passo por aqui, belo texto, belo blog.

Abraços!
Filipe

Rodrigo Piscitelli disse...

Caro Filipe

Grato pela visita e pelas palavras!

Apareça sempre - é um blog amador, mas feito com carinho e critério.

Abs!