segunda-feira, 5 de janeiro de 2015 | |

Uma esperança para os jornais (e o jornalismo de qualidade)

Há um par de anos, a "Economist" alçou à capa a suposição, tirada de um especialista em comunicação, de que o último jornal impresso circularia pela última vez no ano de 2043.

(...) Eis que, há duas semanas, John Cassidy, jornalista da "New Yorker", tascou o primeiro texto razoavelmente otimista sobre a indústria nos últimos 20 anos.

Antes das boas notícias, o diagnóstico mais ou menos consensual: com a chegada da internet, o antigo modelo de negócios baseado em receitas de publicidade foi seriamente danificado, "e o esforço para replicar o modelo de anúncios na rede fracassou em geral".

Ninguém, no mundo inteiro, descobriu até agora como ganhar dinheiro com jornalismo na internet.

Ganhar dinheiro, no caso, não significa só os trocados que permitem a mera sobrevivência. Jornalismo (de qualidade, é claro) é um esporte extremamente caro e, portanto, exige receitas de fato suculentas.

A boa notícia é que começam a pipocar, aqui e ali, números que demonstram que talvez dê, sim, para ganhar dinheiro com notícias no papel e em sua versão digital.

O exemplo mais recente citado por Cassidy é o do veteraníssimo "Times" (o de Londres, não o de Nova York), que acaba de anunciar o primeiro lucro operacional após 13 anos de prejuízos.

Como foi dos primeiros a cobrar pelo seu conteúdo, o lucro do "Times" é um desmentido à sabedoria convencional que diz que ninguém pagaria por notícias se estivessem disponíveis de graça na internet.

(...) A mudança no modelo de negócios, se e quando efetivamente se consolidar, beneficia o leitor, como escreve Cassidy:

"Jornalistas financiados por anúncios são dependentes de anunciantes, da métrica de page-views' e dos algoritmos das mídias sociais. Jornalistas financiados por assinaturas são dependentes dos leitores".

(...) O otimismo do texto não leva o autor à ingenuidade de supor que a crise do modelo de negócios está superada, mas lhe permite afirmar que "o argumento de que jornais são dinossauros, destinados a serem substituídos por competidores on-line mais ágeis, parece um bocado menos convincente do que há poucos anos". (...)

Fonte: Clóvis Rossi, "Há vida no planeta jornal", Folha de S. Paulo, Mundo, 28/12/14.

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