domingo, 21 de dezembro de 2014 | |

O olhar estrangeiro (e a magia do futebol)

Tenho uma certa angústia (aliás, muitas, mas não vem ao caso neste momento) diante da impossibilidade de enxergar o olhar estrangeiro no Brasil. Uma impossibilidade sociológica - nenhum ser humano é capaz de sentir as estranhezas de quem vem de fora em seu próprio país (ou, de modo mais correto talvez, em sua própria cultura).

Recentemente, soube de um livro - "Palavra de Gringo" - escrito por correspondentes estrangeiros a respeito de aspectos pitorescos da cultura e do comportamento brasileiros. Ainda não o li, mas pelas resenhas me pareceu interessante.

Li, contudo, um outro livro (bem interessante, aliás) que me despertou para esta recorrente angústia. Trata-se de "Pelada - Uma volta ao mundo pelo prazer de jogar futebol". Escrito por Gwendolyn Oxenham, ele relata a saga de quatro jovens norte-americanos (a autora incluída) por 25 países em busca de jogos informais de futebol - a chamada "pelada" no Brasil, termo emprestado ao título da obra (provavelmente pelo carinho dos autores pelo "país do futebol").

Nele, a autora cita alguns aspectos curiosos do país, como nos trechos abaixo:


"Cheios de vida" é como Luke descreve os brasileiros. (Ele tem uma teoria não científica de que a incapacidade dos brasileiros de conterem sentimentos e emoções está, de alguma forma, relacionada ao guaraná - o Mountain Dew deles.)" - p. 47

"Nós o seguimos, viramos a esquina e chegamos a um restaurante de comida chinesa (simples assim: somos convidados para jantar por uma pessoa que nunca vimos antes)." - p. 59
 

"A bola caiu na minha frente. Tentei fazer algo sofisticado. Quando se está no Brasil, isso funciona um pouco, seus pés parecem enfeitiçados, fazendo coisas que você não é capaz de fazer, como se você tivesse absorvido um pouco daquela ginga." - p. 77

Da mesma forma, o livro traz aspectos dos demais países visitados.

O objetivo principal da viagem não foi a produção do livro e sim de um documentário, lançado mundialmente em 2013 e premiado.

"Longe dos refletores e dos campos oficiais dos estádios, pulsa um outro lado do futebol: a pelada. Os jogos espontâneos, feitos por e para qualquer um, em qualquer lugar, pelo simples prazer de jogar", como cita a apresentação do trailer oficial na página da editora Zahar (a mesma do livro) no Youtube.



Ou o trailer um pouco mais longo (em inglês) no canal de uma das participantes do projeto, Rebekah Fergusson:



Não sei se o propósito desta postagem foi falar mais a respeito do olhar estrangeiro, uma curiosidade que sempre me move e encanta, ou do "soccer project", o projeto audacioso, mágico e belo dos jovens americanos que deu origem a um documentário e a um livro.

Seja como for, estão aí, numa mesma postagem, os dois registros.

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