quinta-feira, 13 de novembro de 2014 | |

E pegamos carona no cometa...

Lembro-me de, ainda molequinho de tudo, me encantar com a passagem do cometa Halley pelas imediações da Terra, em 1986. Na ocasião, os europeus começaram seu flerte com esses intrigantes objetos, ao despachar a sonda Giotto para tirar fotos (para a época espetaculares) de seu núcleo. Agora, com a Rosetta e o Philae, a sensação é a de que o círculo se fecha. Primeiro, um cometa veio até nós. Agora nós retribuímos a visita, com toda pompa e circunstância. Demonstração contundente de que, não importa o tamanho do desafio, a dureza das probabilidades de sucesso, o espírito humano é impelido a abraçar o cosmos que habita.

O relato - do jornalista Salvador Nogueira, autor do blog "Mensageiro Sideral" - bem que poderia ser meu. Eu tinha apenas 9 anos quando a passagem do Halley se anunciou para aquele já longínquo 1986. Quanta expectativa e quantos sonhos se desenharam na cabeça de um pequeno menino!

No meu caso, encantamento significou viver toda a magia que envolvia acontecimento tão raro, a passagem de um cometa que prometia um espetáculo visual incrível e uma cauda nebulosa. Uma sensação embalada por "um lindo balão azul" que fazia parte da infância de quem viveu os anos 80:

Eu vivo sempre no mundo da lua.
Porque sou um cientista
O meu papo é futurista
É lunático

Eu vivo sempre no mundo da lua
Tenho uma alma de artista
Sou um gênio sonhador
E romântico

Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou aventureiro
Desde o meu primeiro passo
Pro infinito

Eu vivo sempre no mundo da lua
Porque sou inteligente
Se você quer vir com a gente
Venha que será um barato

Pega carona nessa cauda de cometa
Ver a Via Láctea, estrada tão bonita
Brincar de esconde-esconde numa nebulosa
Voltar para casa nosso lindo balão azul
("Nosso lindo balão azul", de Guilherme Arantes)

Ver o dito cujo mesmo eu não vi, como muitas pessoas. Quem viu se disse decepcionado ao observar apenas um pequeno pontinho branco no céu - mas era um cometa!

O fato é que o homem, ou melhor, a capacidade humana, chegou lá, Não vi o homem pisar na Lua em 1969, mas posso dizer que acompanhei o pouso de um robô num cometa.

Apesar das primeiras imagens geradas pelo Philae mostrarem tão somente uma rocha, como era de se esperar (afinal, um comenta é isso, ora...), o ineditismo da missão mantém viva aquela mesma magia da infância a respeito destes objetos celestes. 

Embora a foto de uma grande rocha possa arranhar a imagem que muitos faziam do cometa como uma bola de gelo com cauda gigante cheia de bloquinhos de gelo brilhantes, sempre há mistérios a desvendar e a mover o homem. Como a "música" entoada pelo cometa que agora abriga o Philae, um canto mágico do tamanho dos sonhos que um homem é capaz de sonhar...

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