sexta-feira, 28 de novembro de 2014 | |

E o beatle me fez chorar

Raríssimas vezes na vida eu tive a sensação de que o tempo parou. Pouquíssimas vezes eu me senti tão extasiado a ponto de entender que se a vida acabasse naquele momento tudo teria valido a pena e eu estaria feliz. Foram sensações únicas – e, creia, difíceis de descrever.

Não sou fã de música (daqueles que conhecem nomes, histórias e trajetórias), tampouco sou beatlemaníaco, mas decidi que não teria o direito de passar por esta vida sem assistir ao menos a um beatle. E assim decidi ir ao show de Paul McCartney no Allianz Parque.




 


Talvez o mais performático dos Beatles mostrou toda a sua energia em duas horas e meia de show, durante as quais Paul cantou e tocou instrumentos variados em todas as canções, além de brincar com o público com suas dancinhas, gestos e ao arranhar o português – adaptado para o público, saudado como “paulistas”. E vieram “Sampa”, “esta é para a molecada” até o “É nóis!!!” que provocou gargalhadas.

Não faltaram luzes e cores num show primoroso, digno do nome – show. Espetáculo também cairia bem para uma apresentação espetacular – em emoção e tecnologia. Do som potente, passando pelo cenário deslumbrante aos fogos de artifício e à chuva de papeis picados que encerrou a apresentação, tudo foi mágico.




Tenho usado muito esta palavra para (tentar) descrever aquilo que vai além do que os olhos conseguem enxergar, o ouvido ouvir e o coração sentir. Para sensações e experiências que parecem entrar no mundo do sobrenatural.

A chuva definitivamente não atrapalhou a noite. Foi poética – ela apertou justamente quando Paul cantou “Here Today” em homenagem ao parceiro John Lennon, assassinado em Nova York (EUA) nos anos 80. “São as lágrimas do John”, eu disse.

And if I say I really knew you well
What would your answer be
If you were here today

Oh, oh, oh
Here today

Well knowing you
You'd probably laugh and say that we were worlds apart
If you were here today
Oh, oh, oh
Here today

But as for me
I still remember how it was before
And I am holding back the tears no more
Oh, oh, oh
I love you, oh

What about the time we met
Well, I suppose that you could say that we were playing hard to get
Didn't understand a thing
But we could always sing

What about the night we cried
Because there wasn't any reason left to keep it all inside
Never understood a word
But you were always there with a smile

And if I say, "I really loved you"
And was glad you came along

If you were here today
Oh, oh, oh
For you were in my song
Oh, oh, oh
Here today
(De Paul McCartney)




Também emocionante foi a homenagem a George Harrison, com “Something” - a música composta pelo amigo já falecido tocando enquanto imagens deles apareciam no telão:

Something in the way she moves
Attracts me like no other lover
Something in the way she woos me

I don't want to leave her now
You know I believe and how

Somewhere, in her smile, she knows
That I don't need no other lover
Something in her style that shows me

I don't want to leave her now
You know I believe and how

You're asking me will my love grow
I don't know, I don't know
You stick around now it may show
I don't know, I don't know

Something in the way she knows
And all I have to do is think of her
Something in the things she shows me

I don't want to leave her now
You know I believe and how
(De George Harrison) 




E a noite seguiu entremeada por sucessos dos Beatles, dos Wings (a outra banda de Paul) e do próprio cantor em carreira solo. 

Até chegarem os momentos cruciais, que deveriam ser vividos por todas as pessoas. Primeiro veio “Hey Jude” – e, como já virou tradição, o estádio se iluminou com luzinhas dos celulares e faroletes do público. E foi ali, naquele momento, que eu desejei que o tempo parasse, numa eternidade linda e mágica.

Mas tinha mais. E quando surgiram os primeiros acordes de “Yesterday” não deu mais para segurar. A emoção aflorou, as lágrimas escorreram para se misturar com a abençoada chuva. Sim, o beatle me fez chorar.

Yesterday
All my troubles seemed so far away
Now it looks as though they're here to stay
Oh, I believe in yesterday

Suddenly
I'm not half the man I used to be
There's a shadow hanging over me
Oh, yesterday came suddenly

Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday

Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe in yesterday

Why she had to go I don't know
She wouldn't say
I said something wrong now I long
For yesterday

Yesterday
Love was such an easy game to play
Now I need a place to hide away
Oh, I believe in yesterday
(De John Lennon e Paul McCartney)  


 


 


  
Paul McCartney é um daqueles poucos seres humanos que carregam uma aura além do comum. São capazes de contagiar qualquer ambiente com uma energia diferente. Perfumam o ar, aquecem a noite, acalentam os corações.

Já posso dizer: eu vi um beatle tocar ao vivo. Eu vi o tempo parar. Eu vi, por um instante, o mundo acabar. Feliz.

* Obrigado, Mirele!

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