segunda-feira, 6 de outubro de 2014 | |

Qual o preço da felicidade?

Há, de fato, um preço a ser pago para ser feliz?

No Brasil, infelizmente (sob um certo aspecto), sim.

Concretizar o desejo de viver na cidade grande, conquistar independência e buscar novos ares, realizar sonhos e dar andamento a planos de vida. Tudo isto soa doce como mel, mas há um preço a pagar.

O preço elevadíssimo de um aluguel numa cidade como São Paulo, o custo dolorido da distância de tantas pessoas queridas, de ser apenas mais um na multidão, da violência que mais do que dobra o valor do seguro de um carro, o custo de ver alguém levar, de repente, algo que lhe exige o suor diário do seu trabalho.

Ter um carro numa cidade como São Paulo, onde o transporte público se apresenta como um desafio, é muitas vezes uma necessidade. E mesmo assim você acorda cedo para fugir do rodízio, enfrenta longos quilômetros de congestionamento e batalha arduamente o dia todo para garantir o salário que vai lhe permitir pagar a pesada parcela do veículo.

Até que vem alguém e, com a facilidade que o mundo do crime ensinou, toma o que é seu. E você se sente impotente – e chora.

Restam a delegacia e a frieza de um boletim de ocorrência. Resta a constatação de ser apenas mais um número numa triste e cada vez mais elevada estatística. Restam os alertas do escrivão para os novos tipos de crime que estão na “moda”...

E não me venham com discursos de esquerda porque não há neste país lugar em que furtos e roubos não sejam um tormento. Sejam nas pequenas, médias (a minha Limeira, por exemplo, é campeã estadual em furto de veículos) ou grandes cidades, o problema está posto, diretamente ligado a um mal maior, o das drogas.

Ouvi dia desses de um policial federal que são apenas dez mil homens para combater todos crimes federais (narcotráfico incluído) em todo o território nacional. Para efeito de comparação, só a Polícia Militar de São Paulo tem mais de cem mil membros. Daí não ser cabível qualquer discurso político-partidário – a violência é um problema que perpassa todos os governos, todas as siglas.

O estado brasileiro está falido – e não é de hoje! A guerra contra as drogas está perdida – e não é de hoje!

E mesmo que as drogas sejam uma epidemia mundial, não vi nos países onde estive ao longo dos últimos anos nada parecido com o que encontro em São Paulo ou Curitiba (PR) ou Salvador (BA) ou seja lá onde for Brasil afora.

Por isso, o que era apenas um desejo vira cada vez mais convicção. Respeito os que ainda se dispõem a lutar por um país melhor (“não vamos desistir do Brasil” foi um dos slogans da atual campanha eleitoral), mas para mim já deu. Chega. Meu limite de tolerância está suplantado.

Confesso: perdi para a violência, para a falta de educação e civilidade nas ruas, para a péssima prestação de serviços das Net e Tim e afins, para os preços a que somos submetidos na hora de comprar um carro, uma casa, um seguro, um plano de saúde... Perdi para a necessidade de ter que pagar por tudo isso – educação, segurança, saúde, pagar duas vezes: os impostos que nos tomam e que costumeiramente vão para o ralo, os custos abusivos dos serviços particulares.

Desejo sorte aos que ficam, mas para mim o Brasil só tem uma saída: o aeroporto.

Tão logo seja possível, vou viver num lugar civilizado, onde poderei ter um carro sem pagar o valor de três, sem ter que fazer seguro, sem me preocupar onde estacionar, sem ter que frequentar delegacias. Um lugar onde poderei simplesmente levar uma vida normal – e onde a felicidade não custe tanto.

Porque no Brasil, infelizmente, a felicidade tem um preço alto.

PS: este é um desabafo. Embora tudo o que eu tenha manifestado seja real, não vou permitir que nenhum assaltante tire a minha alegria de viver, a nossa alegria de sonhar...

Dedicado à minha querida Mirele.

1 comentários:

Mirele Parronchi disse...

Obrigada por tudo meu amor. Eu não sei o que teria feito ontem sem sua força, seu equilibrio, seu carinho.
Beijos
Mirele