segunda-feira, 8 de setembro de 2014 | |

Uma sinfonia para Lucerna

A cidade de Lucerna, na Suíça, sedia até o próximo dia 14 um dos maiores festivais de música clássica do mundo. Este ano, a programação inclui uma atividade diferente: a comunidade foi convidada a colaborar na composição de uma sinfonia para a cidade.

O ronco de um motor no trânsito, o barulho do ônibus e da fonte. Vida urbana combinada com a natureza. As aves no lago, o ruído dos pássaros na ponte medieval, a água batendo suavemente no barco a vapor... Transformar os sons de uma cidade numa sinfonia é o desafio do compositor americano Tod Machover. Ele desembarcou em Lucerna com o compromisso de dar a uma das mais encantadoras cidades suíças a sua própria música. “Toda cidade tem seus próprios sons", disse.

Na moderna sala de concertos de Lucerna, as apresentações do festival atraem pessoas de todo o mundo. 


 


Do lado de fora, é o trabalho de Tod que chama a atenção. Ele saiu às ruas para captar opiniões e ruídos. Andou às margens do lago, ouviu sotaques e idiomas diferentes. “Num lugar quieto como lucerna”, falou, “é preciso atenção e paciência para ouvir os sons”. Por exemplo: dos trens e barcos.

O compositor pediu também para as pessoas enviarem sons da cidade, qualquer som.

Depois, tudo vai ser trabalhado em estúdio com ajuda da tecnologia. O compositor é ligado ao Laboratório de Mídia do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), nos Estados Unidos, um dos mais renomados do mundo. É lá que sons, como da água, devem virar notas musicais. O trabalho vai durar um ano.

Parece difícil, mas o resultado Toronto conhece bem. A maior cidade do Canadá foi a primeira a ganhar uma sinfonia para chamar de sua.


Quando eu pergunto se seria possível fazer uma composição com o trânsito caótico de São Paulo, o compositor interrompe: “mas em São Paulo o trânsito não anda!". Depois, confessa que adoraria fazer o projeto. “São Paulo é uma das grandes cidades do mundo”, afirmou.

Ele lembrou até de quando esteve num barzinho e viu um músico tocando com duas colheres: “eu nunca ouvi nada igual”.

Pelo jeito, só falta o convite.

* Texto original de reportagem feita para o "Jornal da Cultura" (seg. a sáb., 21h)

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