segunda-feira, 4 de agosto de 2014 | |

O que não vi do Templo de Salomão

Cobrir a inauguração do Templo de Salomão - a nova sede mundial da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) - foi, digamos, um exercício de antijornalismo.

A imprensa foi monitorada, cercada e vigiada durante todo o evento, que se deu obviamente do lado de dentro do novo templo, enquanto os jornalistas foram obrigados a acompanhar tudo do lado de fora, por meio de duas televisões.

Logo na chegada ao templo, a imprensa era recebida por uma espécie de guia, reunida em grupos de cinco pessoas (repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e auxiliares) e encaminhada ao local de onde deveria acompanhar a cerimônia – um pequeno espaço demarcado por grades na lateral esquerda do templo, ao lado de uma espécie de gruta chamada pela igreja de cenáculo.

Dali ninguém podia sair. Em tese, a saída era até permitida, mas ouvia-se um alerta: “Quinze minutos antes da presidente (Dilma Rousseff) chegar ninguém mais poderá entrar. Se você sair, corre risco de não poder voltar”. Ou seja: melhor ficar onde está.

Pedi a um assessor que vigiava o acesso ao local reservado à imprensa para ir alguns metros adiante porque, afinal, tínhamos que gerar para a emissora imagens externas do templo e a visão de onde estávamos se limitava a uma gigantesca parede lateral, vista muito de perto, o que reduzia o ângulo da câmera.

Pedido recusado.

O cinegrafista tentou, então, virar a câmera para a lateral a fim de captar algumas imagens do tal cenáculo. Foi impedido sob alegação de que “isto não é para hoje”, ou seja, a imagem na inauguração deveria mesmo se limitar à parede lateral e nada mais.

Um auxiliar quis ir ao banheiro, tendo sido acompanhado até a porta por um guia-segurança, que o aguardou e o trouxe de volta ao espaço da imprensa.

Ali, fotógrafos faziam cliques da tela das TVs enquanto a cerimônia ocorria dentro do templo.

Por fim, o púlpito reservado para um pronunciamento da presidente acabou se mostrando inútil, já que ninguém se dispôs a falar com a imprensa.

Na saída, após duas horas de evento e mais de três horas de “cobertura”, mais uma vez grupos eram formados, de modo que metade da minha equipe foi embora e eu teria que aguardar um novo grupo ser formando – o que, naturalmente, não fiz. Irritado, ignorei as ordens e acompanhei a equipe.

O guia, porém, estava lá, acompanhando-nos até a saída do templo.

Em tempo: antes do evento, um comunicado da IURD adiantava que imagens internas estavam proibidas e seriam cedidas pela TV Record, emissora à qual a igreja é ligada. Eu só não imaginava que até mesmo do lado externo a imprensa não poderia se movimentar.

Confesso que, mais do que frustração pelo trabalho limitado, saí de lá irritado – bem como outros colegas. A sensação era de ter sido convidado para uma festa da qual não pude participar. Cheguei a citar para um segurança da IURD se eles tinham convidado a imprensa para ficar vendo um muro...

Até compreendo que as relações da IURD com a imprensa são um tanto conflituosas, mas a falta de gentileza num evento como aquele gerou mal estar. Faltou, sem dúvida, sensibilidade dos organizadores e sobrou a impressão de que havia algo a ser escondido das lentes e olhares dos jornalistas.

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