terça-feira, 29 de julho de 2014 | |

Uma via, uma cidade, um jeito de ser

Stuck in speed bump city
Where the only thing that's pretty
Is the thought of getting out
There's a tower block overhead
All you've got's your benefits
And you're barely scraping by

In this trouble town
Troubles are found
In this trouble town
Words do get 'round
(“Trouble Town”, de Iain Archer e Jake Bugg)

Se há um lugar que simboliza bem os contrastes de São Paulo é o elevado Costa e Silva, o famoso “Minhocão”. Ele é o retrato acabado do que a metrópole pretendia ser, do que ela é e do que poderia ser.

A longa via, que começa na avenida Francisco Matarazzo e vai até a região da praça Roosevelt, no Centro, é odiada por grande parte dos paulistanos, seja como solução viária ou pela brutal interferência que causou/causa na paisagem da cidade. Fica, por exemplo, praticamente grudada em prédios residenciais, o que a obriga a ser fechada sempre às 21h30.





Não é à toa que vira e mexe, numa frequência cada vez maior, discute-se a sua demolição.

Certa feita, comentei isto com um taxista, que defendeu a via de modo taxativo. “Ela está sim mal cuidada. Mas é importante, faz toda a ligação leste-oeste. A cidade não andaria sem ela”, apontou, com a experiência de quem passa a maior parte do seu dia no caótico trânsito paulistano.

Ao mesmo tempo, recebe o carinho de outra boa parcela da população, que mesmo criticando a função viária do elevado vê nele uma boa alternativa para tornar a cidade mais humana e atraente.

Como? Fazendo do famoso e polêmico “Minhocão” um parque urbano suspenso, nos mesmos moldes do High Line, feito em Nova York há alguns (poucos) anos.

A ideia é defendida por uma associação criada em 2013, conforme artigo publicado na “Folha de S. Paulo”:

Vislumbra-se a chance de ressignificar uma cicatriz urbana e psíquica com forte conteúdo de negatividade que afeta a autoestima dos habitantes há quatro décadas. 
A criação do parque favorecerá os elementos intangíveis da vida urbana: os espaços de lazer, de contemplação da paisagem, de afeto e de alteridade. As novas formas de economia criativa e colaborativa poderiam oferecer serviços como o aluguel de bicicletas e comida de rua, além de eventos sazonais.

Alguns testes, durante os finais de semana, mostram que a iniciativa poderia render bons frutos, como já mostrou a TV Cultura:



É preciso, porém, coragem e vontade política para levar o projeto adiante. A principal discussão é o que fazer com o trânsito sem a alternativa do elevado.

Talvez fosse o caso de buscar apoio e inspiração mesmo em Nova York. Depois do High Line, uma iniciativa que começou com a luta de duas pessoas apenas, agora a “bola da vez” é a antiga fábrica da Domino Sugar, no Brooklyn.

E já nasceu o movimento “Save Domino”.

E aí, "Salve o Minhocão"? Ou "Salve São Paulo"?

* Leia também (acrescentado em 14/8):

- O fim do Minhocão e outras notícias

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