sábado, 19 de abril de 2014 | |

Luciano do Valle: o último encontro

Vi Luciano do Valle pela última vez na semifinal do Paulistão, na Vila Belmiro, em Santos, no último dia 30/3. Ele estava já posicionado para uma entrada ao vivo na cabine da Band quando eu passei. Dei um alô com a mão, respondido da mesma forma. Em seguida, um jovem parou com o pai pouco adiante da porta da cabine e fez uma foto.

Devia ter tirado uma foto também e postado no Facebook – ah, não tenho Facebook, Instagram ou qualquer coisa do gênero. Mas devia ter feito a foto.

Quem, porém, há de imaginar a morte repentina, embora fosse público que Luciano já exibia algumas dificuldades em razão de sua saúde?

Na cabine, lá estava ele, postura profissional, meio sorridente e iluminado (não se trata de nenhum elogio “post mortem”; refiro-me à iluminação da TV mesmo).

Foi curioso cruzar com Luciano ali, praticamente dividindo o mesmo espaço de trabalho. Vinte e cinco, trinta anos atrás, eu era apenas um garoto que sonhava ser jornalista e imaginava trabalhar em televisão. Eu era apenas um garoto apaixonado por esportes e torcedor da Inter de Limeira. Eu era apenas um garoto que tinha em nomes como Luciano do Valle e Osmar Santos um espelho (não que eu pretendesse ser narrador de futebol, não tenho voz para isto, mas ambos eram figuras que eu admirava).

Luciano e Osmar Santos imprimiam às transmissões uma emoção jamais vista – e até hoje inigualada.

Que me perdoem os mais novos, mas eu cresci vendo estas feras narrando esportes – principalmente Luciano do Valle, qualquer tipo de esporte. Narrando e promovendo. Das lutas de boxe com Maguila à Copa do Mundo de Futebol Master, na qual ele assumia a função de técnico do Brasil; das conquistas no basquete e vôlei às curvas das fórmulas 1 e Indy.

“Cesssssssssssssssta do Brasilllllllllllllll!!!!!!!!!!!!!”, era assim que Luciano do Valle narrava cada bola que passava pela cesta adversária, culminando com a histórica transmissão da medalha de ouro no Pan-Americano de 1987, nos Estados Unidos, quando a geração de Oscar & cia. venceu os norte-americanos, pela primeira vez derrotados dentro de casa.

Ou, então, na também histórica vitória de Emerson Fittipaldi nas 100 Milhas de Indianápolis, a primeira de um brasileiro, certamente a principal etapa da Fórmula Indy que Luciano do Valle ajudou a popularizar no Brasil.

Lembro bem das madrugadas em que ele comandava o “Apito Final”, um programa delicioso que unia esporte e cultura, além de um time magistral, com Armando Nogueira, Toquinho, etc, em comentários durante a Copa do Mundo de 1990, na Itália (o formato foi reeditado em outros eventos).

Não sei quais lições Luciano do Valle deixa, só sei que seu estilo certamente fará falta (já faz falta). Hoje, as narrações ganharam uma “tecnicidade” chata, estão repletas de comentários inúteis ou excessivamente técnicos, interrompendo a todo momento a razão de ser de tudo, a emoção do espetáculo. Uma emoção que poucos souberam imprimir tão bem com a voz quanto Luciano do Valle.

Em tempo: devo ter guardado um autógrafo do narrador durante alguma passada dele pelo estádio “Major José Levy Sobrinho”, o Limeirão. Eu costumava pedir autógrafos para todo mundo (do Osmar Santos tenho certeza que guardei).

Infelizmente, minha antiga e amarelada coleção ficou na casa dos meus pais. Portanto, sabe-se lá quando poderei revê-la e, quem sabe, “reencontrar” com Luciano.

Ah: eu devia ter tirado uma foto...

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