segunda-feira, 16 de dezembro de 2013 | |

O desafio do transporte público numa grande cidade

(...) Vivemos no mundo em que congestionamento foi promovido a "problema de mobilidade" e carros, ônibus, metrô e trens ganharam status de "modais de locomoção". Fora da linguagem dos seminários, uma coisa é fato: transporte público nunca foi prioridade por aqui. E até um guarda de trânsito percebe que não basta tinta na caneta ou cal no asfalto para mudar esse quadro do dia para noite.

O prefeito age diferente. "Todos para os coletivos", decretou, numa espécie de paródia da coletivização forçada. Naquela, Stálin decidiu acabar à força com as pequenas propriedades no campo em proveito de fazendas coletivas, quando não havia condições materiais para isso. O resultado: espalhou a fome, jogou pobres contra pobres e matou milhões. Nas devidas proporções, o paralelo é sobretudo de método, não de resultado: como mandar todos para os coletivos se não há coletivos para todos? Tente imaginar 20%, 30% dos que andam de carros migrando repentinamente para os pontos de ônibus ou estações de trem e metrô já abarrotadas. Mudaria o congestionamento de lugar.

Fazer a coisa certa implica confrontar tanto a máfia do transporte coletivo como o cartel que transformou metrô, trens e afins em "modais de corrupção". A primeira maneja as linhas de ônibus ao bel prazer; pouco se lixa para a qualidade e quantidade dos serviços. Já o cartel usa dinheiro do povo para irrigar campanhas emplumadas. Duetos em Paris não apagam a realidade de que esses são os verdadeiros adversários ­- não o sujeito que comprou um carro a perder de vista, incentivado pelo partido do prefeito. (...)

Fonte: Ricardo Melo, “Haddad e a ‘coletivização’ forçada”, Folha de S. Paulo, Poder, 16/12/13.

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