segunda-feira, 26 de agosto de 2013 | |

Os jornais e a Internet como negócio

O indiano Avinash Kaushik tem um cargo peculiar: ele é evangelista de marketing digital do Google. Entre as suas atribuições, estudar e palpitar sobre o comportamento das pessoas na rede.

Para ele, medir o sucesso de um site pelo número de acessos é "estupidez". Muito mais importante, afirma, é ter leitores ou clientes fiéis. (...)

Folha - Page-views (...) ainda são um sinônimo de sucesso digital...
Avinash Kaushik - É uma estupidez!

Por quê? E o senhor acha que isso está mudando?
Se você tem um site, o seu retorno publicitário está relacionado com page-views. O problema, eu acho, é o que o page-view incentiva o modelo mental que ele cria. Você pode criar o site mais estúpido. As pessoas vão acessar, mas o que você, como negócio, ganha? Quer dizer, como você faz dinheiro? Por exemplo, eu amo o "New York Times"...

Essa era a próxima pergunta...
[Risos.] Eu pago para acessar o "New York Times" na internet. Onde eu vou no mundo, o consumo de notícias está aumentando, mesmo que o papel vá embora. Assim, o "Times" pode oferecer reportagens sobre o novo cachorro do Obama pela audiência. Mas eu não pago pelo cachorro, pago pelo conteúdo de alta qualidade. Jornais na internet não lucrarão com quem aparece uma vez, mas com quem vai ao site sempre, que vai pagar. Fidelidade é o que importa.

Mas, como o senhor mesmo aponta, o faturamento publicitário está ligado aos acessos.
Sim, infelizmente. Me parte o coração que a indústria da propaganda ainda trabalhe do mesmo modo antigo: uma revista tem tal circulação, então sua propaganda custa tanto e atinge tantos - mesmo que o sujeito nem olhe para o anúncio. Fomos para a internet e a mentalidade continuou a mesma. Meu conselho para os veículos: OK, jogue o jogo deles por enquanto, porque, se você parar de jogar, você quebra. Mas trabalhe forte para conseguir se rentabilizar de outras maneiras. É difícil dizer se o "paywall" [sistema de cobrança por conteúdo] é o futuro. Está funcionando no "New York Times", no "Financial Times". Com o tempo, anunciantes mudarão também. Verão que visitantes fiéis são um ativo dos sites - porque são "premium", porque não há como encontrá-los em outro lugar.

Como o senhor tem certeza dessa mudança futura?
Tenho filhos de 11 e 9 anos. Quando digo que íamos a lojas de discos, eles simplesmente não entendem. Eu digo "mas era gigantesco, tinha muitos andares", eles acham que estou mentido. (...)

Fonte: Ricardo Mioto, “Preocupar-se com número de acessos éuma estupidez”, Folha de S. Paulo, Mercado, 25/8/13.

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