sexta-feira, 19 de julho de 2013 | |

O teatro oficial x as vozes das ruas

"Eles (políticos) estão provocando a sociedade."
Lilian Witte Fibe, jornalista, no "Programa do Jô"

O governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB), com seu jeito falastrão, afirmou recentemente a respeito dos protestos que ocorrem em seu Estado que "não é assim que se faz oposição"

Não sei qual é o jeito - se é que existe um. 

Só sei que Cabral e todos os demais políticos ainda não entenderam a mensagem das ruas - e ela é muito clara, por mais que muitos digam não entender: o povo está cansado de tudo o que está aí, do jeito de fazer política no Brasil, da desfaçatez dos nossos governantes e das prioridades invertidas na administração pública.

A resposta que nossos governantes em geral, das esferas municipais à federal, ofereceram aos protestos de rua não passa de mero discurso, pomposo em alguns casos, mas mero discurso, descolado da realidade, de ações concretas que melhorem a vida dos cidadãos (salvo um ou outro decréscimo nas tarifas de transporte). Fazem puro teatro, jogam para a plateia (vide a troca de farpas entre governo e Congresso, um buscando jogar no colo do outro a "conta" da crise política e institucional que o país atravessa).

Daí a constatação feita pela jornalista Lilian Witte Fibe esta semana. Ao encenar um teatro patético, os políticos estão conclamando o povo à ação mais uma vez. Porque se pensam que a chama se apagou, ela apenas arrefeceu; as brasas continuam incandescentes, podendo o vulcão das ruas entrar em erupção a qualquer momento.

Tome-se o caso do abuso no uso de aviões oficiais. Em meio aos protestos que varreram o país de cima a baixo, políticos que se acham acima dos demais cidadãos pegaram carona com a FAB (Força Aérea Brasileira) para ir a festas de casamento, jogos de futebol, etc. E ao menos um deles chegou a defender o direito de usar os aviões oficiais para atividades particulares só porque é o chefe de um poder (o Legislativo)!

Aliás, o Congresso tenta responder às ruas com uma tal "agenda positiva" de um lado enquanto de outro mantém uma série de privilégios que custam bilhões de reais aos cofres públicos. Os mesmos bilhões que faltam para saúde, educação, transporte, etc.

E não venham me dizer que o orçamento do Congresso é uma norma legal porque se querem de fato dar exemplo deveriam sim cortar benefícios, reduzir o próprio orçamento ao mínimo necessário para funcionamento das duas casas legislativas e deixar o restante do dinheiro com o governo, fiscalizando a sua aplicação (o que, aliás, é dever de todo parlamentar).

Por exemplo: por que os deputados e senadores têm direito a aposentadoria se a função que desempenham não é profissão? Por que um senador tem direito a plano médico com cobertura ILIMITADA e não só para ele como também para seus familiares (cônjuge e dependentes até 21 anos ou até 24 anos se estiver na faculdade)?

(Veja os benefícios dos senadores aqui.)

Naturalmente, deputados, senadores e vereadores não são os únicos problemas do Brasil. Não são sequer os principais problemas, mas são parte deles, causa de muitos deles e simbolicamente representam muito daquilo que as vozes das ruas querem mudar. 

Portanto, ou falta sensibilidade para entender isto ou falta mesmo vergonha na cara. Em um caso ou outro, "eles estão provocando a sociedade"...

Em tempo: entre tantas besteiras que o ex-presidente Lula fala, ao menos ontem ele disse algo sensato. Foi em palestra na Universidade Federal do ABC, em São Bernardo do Campo: "A pior coisa que pode acontecer no mundo é a gente aceitar a negação da política".

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