terça-feira, 30 de julho de 2013 | |

Limeira: uma cidade, dois governos

Passados sete meses da administração Paulo Hadich (PSB) em Limeira, já se pode fazer uma avaliação. Não de resultados, para isto é cedo, mas de cenário. Neste sentido, é possível dizer que a cidade possui hoje dois governos.

Explico: há um governo para dentro e outro para fora. Um governo que se vê por quem está nele e outro que é visto por quem não está.

Isto é bom e ruim. Bom porque os executores sinalizam convicção do que fazem; ruim porque a imagem transmitida começa a se desgastar muito cedo.

Quem conversa com o prefeito ou com pessoas de sua confiança na administração, de alto e médio escalão, fica com a certeza de que o governo tem um norte. Há um caminho a ser trilhado visando determinados resultados e os primeiros passos – silenciosos ainda – estão sendo dados.

É fácil notar nas pessoas do governo entusiasmo e confiança.

Um observador externo destacou que a equipe é tecnicamente boa, provavelmente das melhores que já se formou nos últimos 30 anos. Há, portanto, material humano para trabalhar. Faltam, certamente, recursos financeiros e ferramentas – mas isto era mais do que conhecido de todos que se candidataram ao cargo de prefeito, daí não ser desculpa aceitável.

Ao mesmo tempo, o governo Hadich enfrenta sérios problemas. A relação com a imprensa se desgasta a cada dia, em ritmo veloz, com forte contribuição de sua bancada de vereadores.

É certo que a mídia limeirense tem uma parcela bastante conhecida de “profissionais” que se notabilizaram por “mamar nas tetas” dos governos de plantão ao longo dos anos. Citar nomes é desnecessário e infrutífero – seria dar audiência a quem não merece. A estes, o tratamento dado pela administração Hadich e o posicionamento do prefeito bastam.

Existe, contudo, uma outra parcela de profissionais na imprensa, honestos e dedicados, que merece atenção e respeito do governo.

Quando a avaliação crítica em relação ao tratamento dispensado pelo governo se torna praticamente uma unanimidade entre os agentes da mídia, algo há de errado. Neste caso, é recomendável que o governo faça uma autocrítica – não é possível que todos, os bem e os mal intencionados, estejam equivocados.

Se as ações de governo não estão sendo reconhecidas e, portanto, não ecoam na mídia é porque: 1) há má vontade da imprensa; 2) há incompetência da imprensa; ou 3) a comunicação do governo está falha (e aqui não me refiro estritamente às pessoas que atuam na área de comunicação e imprensa da prefeitura e sim a uma estratégia ampla do governo).

Não me parece plausível que todos da mídia estejam com má vontade ou sejam míopes. Resta, pois, a terceira opção.

Repito: uma autocrítica tanto da parte da imprensa quanto do governo seria saudável para melhorar esta relação – essencial para a vida democrática e para a sociedade na medida em que a mídia é intermediária entre a população e o poder público.

Ainda no campo externo, no governo que se vê de fora, há outro problema: cresce a insatisfação de alguns setores organizados com relação à administração. As críticas se avolumam – ouvi pelo menos três setores aumentarem o tom da impaciência nos últimos tempos: o dos engenheiros e arquitetos, o dos contabilistas e o empresariado. São profissionais liberais e, principalmente, formadores de opinião.

É um problema sério na medida em que qualquer governo precisa de sustentação popular/setorial, além de legislativa e da imprensa. Quando se fala em sustentação não significa subserviência e sim um voto de confiança, o benefício da dúvida (em dose maior no primeiro caso, da sociedade, menor no último, da imprensa).

No caso de Hadich, as críticas começam a ressoar e a se tornar públicas. As respostas são pontuais (talvez porque a estratégia de comunicação não exista, o que não acredito, ou porque não esteja funcionando, o que é provável).

Volto ao ponto inicial: o governo tem tomado medidas, tem agido em questões estruturais, que não aparecem num primeiro momento aos olhos do cidadão, mas é preciso que isto esteja acompanhado de outras ações mais efetivas e, por que não?, midiáticas. É preciso que isto esteja acompanhado de esclarecimento e informação – o que não vem ocorrendo plenamente (e falo isto como cidadão).

São apenas sete meses. A jornada é longa e há tempo para corrigir eventuais desvios durante o percurso. É necessário, portanto, que quem está fora possa enxergar melhor o governo que se vê de dentro e quem está dentro consiga apresentar melhor o governo para fora. 

É urgente, pois, que os dois governos se encontrem em um só – para o bem da cidade.

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