terça-feira, 23 de abril de 2013 | |

O mercado do futebol no Brasil

Apostar na paixão do torcedor.

Esta foi uma das conclusões de uma espécie de mesa redonda promovida pela ESPN por meio do programa "Segredos do Esporte" nesta terça-feira (23/4). A questão colocada era: qual o tamanho do futebol no Brasil?

Um dos expositores lembrou que o Brasil ruma para ser a quinta economia do mundo, estando à frente de Espanha e Itália por exemplo (esteve no ano passado à frente da Inglaterra, perdeu a posição este ano, mas as projeções indicam uma retomada em dois anos). Isto significa que grande parte do dinheiro do futebol hoje circula no Brasil. Bem mais do que na Espanha e Itália.

Por que, então, o Brasil não consegue ter campeonatos tão decentes (no que diz respeito à infraestrutura e desempenho geral)? Por que os clubes brasileiros estão longe de dominar o ranking dos melhores e mais ricos do planeta se o dinheiro circula aqui?

Alguns aspectos foram abordados. Por exemplo: ao contrário das ligas espanhola, italiana, alemã e inglesa, os times brasileiros ficam de quatro a cinco meses do ano disputando campeonatos deficitários e pouco atrativos - os estaduais. 

Tome-se o caso do Paulistão, o mais rico e de maior visibilidade entre todos: o campeonato perde valor a cada ano devido a fórmulas que reduzem a disputa a poucas rodadas, sem contar a falta de infraestrutura e conforto nos estádios e a baixa qualidade técnica das equipes.

Naturalmente, a geografia serve como um argumento em favor dos estaduais (os países europeus possuem dimensões bem menores, "dispensando" campeonatos regionais).

Há quem possa dizer que, no Brasil, a corrupção impera. Isto é verdade, mas os efeitos disto no futebol como espetáculo são relativos. Problema semelhante atinge a Europa e nem por isto os clubes e torneios lá são ruins.

Sandro Rossel, presidente do Barcelona, um dos clubes mais bem sucedidos do mundo, está envolvido em sérias denúncias de corrupção (inclusive no Brasil no caso do amistoso da seleção contra Portugal em Brasília). Uli Hoeness, presidente do Bayern de Munique - que ruma para a final da Copa da Uefa e é provavelmente o time mais bem sucedido da Alemanha -, é acusado de evasão fiscal.

Daí relativizar a questão da idoneidade dos dirigentes para a qualidade do esporte. (Importante: isto não significa que esta questão deva ser relegada a segundo plano, mas sim que ela não é a única a ser combatida.)

Houve consenso de que atualmente, no Brasil, ir para um jogo de futebol é quase uma aventura. Falta lugar para estacionar o veículo, falta transporte público decente e que deixe o torcedor próximo do estádio, falta segurança dentro e fora das arenas, entre outros fatores.

Como resultado de tudo isto, a média de público nos estádios do Brasil atinge níveis incompatíveis com a riqueza dos atletas e do nosso futebol atualmente. Para se ter uma ideia, a média por jogo na Alemanha é de 45 mil pessoas. Até EUA (onde o futebol não é popular) e China (sem evidência nesse esporte) aparecem na frente do Brasil no ranking.


Outro dado: na Inglaterra, a média de ocupação dos assentos por jogo é de 97% - no Brasil é de 44%.

Eis uma provocação: quem é mesmo o país do futebol?

E qual seria a solução? Para o diretor de conexões com o consumidor da Ambev, Marcel Marcondes, a saída é óbvia: apostar e investir na figura do torcedor.

De acordo com ele, o Brasil tem cerca de 350 mil sócios-torcedores num universo de 150 milhões de jovens e adultos. Isto dá 0,2% do total - o Benfica (Portugal) tem 4% de torcedores como sócios.


Se um dos grandes clubes brasileiros tivesse 100 mil sócios pagando R$ 30 por mês, citou Marcondes, acrescentaria a suas finanças R$ 36 milhões/ano. É metade da receita de um clube como o Botafogo (RJ). Não custa lembrar que os maiores clubes do país têm milhões de torcedores (daí a marca de 100 mil ser absolutamente factível).

Uma projeção: se o Flamengo conseguisse ter 1% de seus torcedores como sócios, teria R$ 260 milhões no ano. Se atingisse o nível do Benfica, atingiria R$ 900 milhões.

Contudo, como disse um dirigente de um clube brasileiro, o que interessa é o dinheiro da televisão e dos patrocinadores. Traduzindo: o torcedor é apenas detalhe.

Deveria, pois, ser a razão do espetáculo. E do negócio.

Enquanto esta lógica não for invertida, os clubes seguirão penando com administrações amadoras e resultados ineficientes (salvo uma ou outra exceção). E nossos campeonatos seguirão em posições ingratas nos rankings mundiais, apesar do dinheiro estar circulando por aqui.

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