terça-feira, 30 de abril de 2013 | |

O Brasil não está preparado para a Copa

Tive recentemente a oportunidade de estar em quatro dos aeroportos que servirão à Copa do Mundo de 2014 e, em um caso, aos Jogos Olímpicos de 2016. Viracopos (Campinas), Santos Dumont (Rio de Janeiro), Guarulhos (São Paulo) e Pinto Martins (Fortaleza). No ano passado, estive também no Galeão (Rio de Janeiro).

Os aeroportos de Campinas e Guarulhos foram recentemente concedidos pelo governo federal à iniciativa privada. O do Galeão, principal porta de entrada para estrangeiros no Rio, deve seguir o mesmo caminho este ano.

É cedo ainda para avaliar com segurança a validade das concessões (elas não completaram sequer um ano). Nos dois aeroportos concedidos, há alguma melhoria. Pouca, porém.

As recentes visitas a estes aeroportos me permitem afirmar com tranquilidade e categoria: do ponto de vista da infraestrutura, a pouco mais de um ano da Copa (e a um mês da Copa das Confederações), o Brasil NÃO ESTÁ preparado para receber os eventos.

As falhas estruturais são gritantes, saltam aos olhos. Vamos a algumas situações:

1 – Viracopos e Cumbica/Guarulhos ganharam “puxadinhos”. Para quem os conhece, será fácil entender as descrições seguintes.

Em Campinas, o antigo corredor coberto que ficava entre o saguão de embarque e o pátio de parada das aeronaves virou uma nova área de embarque, uma espécie de “terminal 2”. Se seu portão for além da letra G (ou H, não me recordo com exatidão) será levado até lá. Foi adaptado com rapidez, é verdade, tem piso de granito, tudo novo, mas só vi um estande para comes e bebes. Não deixa de ser paliativo.

Em Guarulhos, além do terminal 3 que já havia sido feito fora da estrutura então existente, o que exige pegar um ônibus até lá, um novo saguão foi erguido no meio do pátio de parada das aeronaves. Tanto que dele é possível ver os aviões de companhias estrangeiras que chegam a São Paulo e ficam esperando o voo de retorno. Como em Campinas, tem piso adequado, tudo novo, mas não deixa de ser um “puxadinho”.

  
Aliás, não entendo porque Guarulhos ainda recebe voos regionais, como para Passo Fundo (RS), Joinville (SC) e Ribeirão Preto (SP). Um outro aeroporto devia sediar estas operações, deixando o maior aeródromo do país exclusivamente para voos internacionais e nacionais de maior demanda.

2 – em nenhum dos aeroportos o sistema de informação funciona adequadamente. Em Viracopos, tive que perguntar a um funcionário onde estava o meu portão de embarque, já que eu desconhecia o “puxadinho” e praticamente não havia placas indicando o local.

Em Cumbica, você desce uma escada para acessar os portões A1, A2... A15. E lá tem que ficar atento à chamada do seu voo para pegar o ônibus que o levará ao tal “puxadinho”. Santos Dumont, no hall de entrada, parece uma rodoviária lotada. Em Fortaleza, tive que “intuir” onde ficavam os portões de embarque (no andar de cima).

3 – as informações de acesso também deixam a desejar. Em Fortaleza, não havia uma placa sequer indicando o local para deixar os carros alugados (serviço essencial num aeroporto). Como havia apenas duas entradas – indicando “estacionamento” e “embarque” -, dirige-me a uma delas. Tive que parar o carro, descer e perguntar onde deveria entregar o veículo. Fui orientado a sair do estacionamento (quase tive que pagar se demorasse mais um pouco) e pegar, acredite, a entrada de ônibus – isto mesmo, a placa indicava apenas “Ônibus”.

Ainda em Fortaleza, o mapa que recebi no hotel (e, talvez, o GPS) me levou a um aeroporto que não mais é usado. Corri o risco de perder o voo (fiz o check-in correndo e meu nome foi chamado no sistema de som para “embarque imediato”). Não bastasse a indicação equivocada no mapa (que devia ser antigo), o tal aeroporto velho mantém o nome do novo – Pinto Martins. Ou seja: um turista desavisado como eu achará que está no lugar certo.

5 – funcionários e serviços em geral não parecem preparados para receber o público específico de um grande evento como a Copa. Em Fortaleza, dos seis guichês de aluguel de carros, quatro não tinham veículos disponíveis. Ora, como uma cidade que vive do turismo e irá receber a Copa não aumenta a oferta desse tipo de serviço diante de tal demanda?

A funcionária que me atendeu, embora muito gentil, não sabia falar inglês. Num restaurante, a atendente do caixa mal conseguia pronunciar o nome do molho “Caesar” da salada (ela falou tal como se lê, “Ca” – “e” – “sar”).

6 – Em nenhuma das cidades, salvo o Rio, vi obras estruturais. Onde estão os corredores de ônibus? Trens de superfície? Metrôs? Urbanização? Melhorias? Em São Paulo, o acesso a Guarulhos continua restrito para quem não tem carro. Transporte público (leia-se ônibus circular) é um caos. Sobram os táxis com preços abusivos. O desembarque está caótico – e a polícia estava multando os infratores por lá.

Quem recorre aos estacionamentos particulares da região chega a esperar de 30 minutos a uma hora para ser pego pelas vans. Isto se achar vaga nos estacionamentos, costumeiramente lotados. Se precisar mudar de terminal ou recorrer aos de carga terá que pegar um táxi, pois ficam distantes (o que não é o principal problema) e com difícil conexão ou até desconectados (este sim o principal problema).

Em Fortaleza, o acesso ao aeroporto passa por regiões de pouca infraestrutura e aparente insegurança, o que pode amedrontar os turistas (principalmente estrangeiros). Tampouco vi alguma obra de acesso ao estádio do Castelão – ele fica um pouco afastado e só se chega até lá de carro ou ônibus circular, ainda assim há poucas placas indicativas.

Na capital paulista, não é preciso dizer, o Itaquerão está à espera das obras viárias prometidas pelos governos estadual e municipal.

Em Campinas, que não sediará jogos da Copa, mas deve receber turistas em conexão para as cidades-sede, é preciso facilitar a ligação direta de Viracopos com São Paulo. Hoje, é preciso ir até a rodoviária para esta conexão.

7 – detalhes simples, mas importantes, deixam a desejar nos aeroportos. Em Guarulhos (concedido à iniciativa privada!), o banheiro estava sujo e fedorento. Dois funcionários estavam ao lado dos mictórios conversando... Em Fortaleza, sob controle da Infraero, o mau cheiro do banheiro era ainda pior – como também a sujeira. Será tão difícil melhorar ao menos isto no curto prazo?

8 – em alguns casos (no meu), atendentes de companhias aéreas não demonstram muito esforço para ajudar os passageiros em suas dúvidas.

Paro por aqui porque o relato já está longo. Gostaria apenas de fazer uma última observação: todas estas situações e dificuldades foram enfrentadas por mim, brasileiro. Imagine como será para um estrangeiro que não conhece nossos hábitos, nossa cultura e nossa língua?

Ainda há tempo para melhorar...

Em tempo: tirando os novos estádios, já não tenho mais dúvida do tal legado da Copa para a população: quase zero (salvo a inevitável movimentação econômica que o evento provoca nas cidades).

1 comentários:

Thiago L L Mettitier disse...

Fortaleza, o aeroporto sequer tem um banheiro para trocar de roupa, precisa trocar na frente de todos..., Comunicação Visual Zero, posto de atendimento hahaha é para dar risadas! Em questão de estacionamento, não tem lugar para estacionar?NAO.. e pior multam as vans que vão buscar os passageiros, oras bolas, se nao ajuda nao atrapalha!