sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013 | |

"Ser ou não ser pai"

Eu disse a uma amiga que um casal que conhecíamos se separou porque ela queria ter filhos, mas ele, não. Ela comentou: "Ele não a amava o suficiente".

Mas espere aí! Tornar-se pai é prova de quanto um homem ama uma mulher? Felizmente, não precisei fornecer essa prova, posto que minha amada já tinha dois filhos adolescentes. Assim, minha aversão crônica à paternidade não frustrou o desejo de maternidade dela, já satisfeito.

Se ela não tivesse filhos quando o casamento começou teríamos nos separado? Ou eu teria me tornado pai só para que ficássemos juntos? O estresse de criar os filhos teria acabado com a relação? Ou eu teria gostado de cumprir esse papel?

Quem sabe? Só sei que lamber a cria nunca foi um de meus desejos. O que me deixa ainda mais entediado do que brincar com crianças é ouvir pais monologarem efusivamente sobre elas.

E a paciência -necessária, pois o egocentrismo de um filho pode se prolongar após a adolescência- não é uma de minhas virtudes.

Mas será que o egoísmo é um defeito meu apenas porque me dei conta de que ter filhos exigiria grandes sacrifícios? Por exemplo, o sacrifício de encontrar trabalho mais lucrativo e menos interessante para sustentá-los, coisa que não quis fazer.

Outros sacrifícios teriam sido responder a todos os "porquês" dos meus filhos, colocar limites e preocupar-me sem parar com eles.

Sei que ter uma família pode ser gratificante. Amo meus enteados e tenho orgulho deles. Mas o relógio biológico da mulher pode pressionar o homem a tornar-se pai na hora em que ela precisa virar mãe. Ele pode não estar preparado para a paternidade no momento, não por insuficiência de amor, mas por uma assincronia de desejos. Ele pode estar pronto em cinco, dez ou 15 anos. Ou nunca.

Algumas mulheres nunca estão prontas para a maternidade. Uma vez, quando perguntei a uma mulher se ela lamentava não ter filhos, ela disse que os homens fazem essa pergunta muito mais que as mulheres. "Por quê?", indaguei. "As mulheres sabem dos sacrifícios necessários e entendem as razões pelas quais algumas de nós decidimos não fazê-los", respondeu.

Ambos rejeitamos a noção de que ter filhos é "natural" e não precisa ser justificada. Eu sempre precisei de justificativa e não a encontrei. Assim, às mulheres que dizem "ele não quis filhos porque não me amava o suficiente", eu responderia: "Nem tudo tem a ver com você".

Fonte: Michael Kepp, Folha de S. Paulo, Equilíbrio, 19/2/13, p. 2.

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