terça-feira, 15 de janeiro de 2013 | |

Lições de um mestre do jornalismo

“(...) Desde meus primeiros tempos como jornalista, eu me interesso menos pelas palavras exatas que saem da boca das pessoas que pela essência do que elas dizem. Mais importante que o que elas dizem é o que elas pensam, embora num primeiro momento seja difícil para elas articular o próprio pensamento, além de exigir do entrevistador muita ponderação e reflexão sobre o que há na mente do entrevistado – o que eu busco com todo cuidado é encorajar e estimular as pessoas sobre as quais escrevo, ao mesmo tempo que lhes faço perguntas, questões e me identifico com elas, enquanto as acompanho em reuniões, em caminhadas sem compromisso antes do jantar ou depois do trabalho. Seja onde for, procuro estar presente em meu papel de confidente curioso, um companheiro de viagem digno de confiança que procura examinar o interior do entrevistado, tentando descobrir, esclarecer e afinal descrever com palavras (minhas palavras) o que essas pessoas representam e o que pensam.” (p. 512)

“(...) Esse método de acompanhar com atenção, ouvir com paciência e descrever cenas que permitem vislumbrar o caráter e a personalidade de um indivíduo – um método que há uma geração foi chamado de New Journalism – foi, em sua melhor expressão, reforçado pelos princípios do velho jornalismo de incansável trabalho de campo e fidelidade à verdade e precisão dos fatos.” (p. 520)
Gay Talese, jornalista, em “Como não entrevistar Frank Sinatra” (IN: “Fama & Anonimato”)

“(...) Mas não se trata, fique claro, de literatura, esse território onde o escritor está autorizado a se mover com a ilimitada liberdade de um deus que espalhasse galáxias no vazio do Universo. Não há, no que escreve Gay Talese, nada que não tenha sido pinçado da realidade e exaustivamente checado e conferido antes de baixar ao papel. É jornalismo. Mas não o jornalismo usual, predominante, esse em que o repórter, em nome da imprescindível busca da objetividade, se sente desobrigado de servir ao leitor mais que uma pilha de informações descarnadas – como se fosse isso a realidade. Como se a informação devesse ser, goela abaixo do leitor, uma espécie de pílula para astronauta, que nutre sem a obrigação de ser palatável. Como se, provindos da mesma raiz latina, saber e sabor não pudessem andar juntos.” (p. 524)

“(...) No que se refere à busca da informação, para começar, Gay Talese pertence ao time dos repórteres que saem à rua. O rótulo, que em outros tempos soaria galhofeiro, acabou por se converter em amarga ironia, à medida que se foi tornando rarefeita a categoria dos repórteres que se põem em campo à cata da notícia.” (p. 525)
Humberto Werneck, no posfácio de “Fama & Anonimato” (2ª edição)

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