segunda-feira, 26 de novembro de 2012 | |

"Meninos, eu vi": o gol antológico de Dener

No final dos anos 1980, a TV Globo levou ao ar uma novela chamada “O Salvador da Pátria”. Nela, havia um personagem – pelo que me lembro um radialista – que usava um bordão que se tornou famoso. Ele dizia: “Meninos, eu vi!”

Estou contando esta breve história em razão de uma notícia que li nos portais. A Portuguesa, tradicional clube paulistano, está lançando uma camisa para homenagear um gol antológico feito pelo meia-atacante Dener, um dos craques da história da equipe.

Foi numa noite de 14 de novembro de 1991, véspera de feriado, no Canindé, o estádio da Portuguesa, às margens da Marginal Tietê, em frente ao Shopping Center Norte. A partida valia pelo quadrangular semifinal do Campeonato Paulista. O grupo tinha, além da Lusa, o Corinthians, o Santo André e a Internacional de Limeira.

Era a segunda rodada. Jogavam Portuguesa e Inter. Os dois times precisavam da vitória. O tempo corria e o placar apontava um empate sem gols. O jogo se aproximava dos 40 minutos da etapa final quando a equipe de Limeira teve um escanteio a seu favor. Eis que a bola sobrou para Dener pouco além da entrada da grande área da Portuguesa. Um passe vindo da direita. Ele dominou, driblou um, dois, três, quatro, cinco – incluindo o famoso drible da vaca no zagueiro Lica.

Aquilo parecia inacreditável. Mágico. Super-humano. Do além. Quando restou o último jogador da Inter, viu-se uma tentativa em vão de um carrinho quase criminoso para derrubar o meia-atacante. E aí a tensão: será que Dener conseguiria fazer o gol? Sim, ele conseguiu. Os “deuses” do futebol não permitiriam outro final para aquele momento. Um verdadeiro gol de placa, lembrado mais de duas décadas depois.

Na arquibancada, a pequena torcida lusa foi à loucura. Nos camarotes, a “portuguesada” (como eu costumava me referir aos carrancudos portugueses diretores da Lusa) pulava eufórica. Os diretores trocavam abraços, gritavam, aclamavam o craque do time: “Ele é um gênio!”, diziam – com razão, admitíamos forçosamente os torcedores da Inter.

Naquele dia, após o jogo, algumas pessoas abordaram o zagueiro Lica questionando a razão dele não ter cometido uma falta em Dener para barrar a jogada – e, consequentemente o gol e a derrota que, àquela altura, praticamente eliminava a Inter da disputa. Ele temeu levar o cartão vermelho e ser expulso. Havia, ainda, a esperança do atacante fracassar ou do goleiro barrá-lo. Enfim, milionésimos de segundo para tomar uma decisão.

A derrota da Inter nos entristeceu. Pensando com a distância e a frieza do tempo, porém, como foi bom Lica não ter derrubado Dener. E a tentativa de um carrinho criminoso não ter passado disso, uma tentativa. O jogador merecia aquele gol. O futebol merecia aquele gol.

Foi, sem dúvida, o gol mais bonito que eu já vi em toda a vida. Porque sim, eu estava lá naquela noite no Canindé.

“Meninos, eu vi!”

PS: infelizmente, as imagens disponíveis na Internet referentes a este gol não mostram o brilho de toda a jogada, desde o escanteio.

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