domingo, 16 de setembro de 2012 | |

Reflexão

O que realmente temo é o tempo. (...) Ele é o verdadeiro demônio: fustiga-nos quando preferíamos ficar à toa, levando o presente a passar a toda velocidade, impossível de ser contido, e quando se vê, tudo se torna passado, um passado que não se aquieta, que flui, formando histórias espúrias. Meu passado... não parece nem um pouco real. A pessoa que o vivenciou não fui eu. É como se o meu eu atual estivesse sempre se dissolvendo. Tem aquela frase de Heráclito: “Ninguém se banha duas vezes no mesmo rio, pois as águas já não são as mesmas, nem a pessoa”. Está certíssima. Gostamos dessa ilusão de continuidade e a chamamos de lembrança. O que explica, talvez, por que nosso maior temor não é o fim da vida, mas o fim das lembranças.
Gerda Erzberger, personagem de “Os imperfeccionistas”, livro de Tom Rachman (altamente recomendável, principalmente para jornalistas)

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