quinta-feira, 16 de agosto de 2012 | |

"Jamaica ou Finlândia?"

Terminada a Olimpíada de Londres, aqui e ali escuta-se que o país deveria investir nas escolas, verdadeiros "celeiros de atletas", a fim de obter um desempenho melhor em 2016 no Rio. Com a massificação das práticas esportivas, dizem os especialistas, inevitavelmente surgiriam campeões.

De fato, é muito frustrante, a cada quatro anos, acompanhar o desempenho brasileiro na competição. Dia após dia, a Olimpíada vai se transformando numa sucessão interminável de fracassos. Com honrosas exceções, nossos atletas só perdem. Nem o 'massificado' futebol escapa.

Mas, considerando a fragilidade do ensino brasileiro, será mesmo que descobrir atletas deve ser uma prioridade das nossas escolas? Um país que não consegue ensinar português e matemática adequadamente aos seus alunos deve realmente se preocupar em achar talentos olímpicos? Afinal, preferimos ser uma Jamaica, potência no atletismo, ou uma Finlândia, que nem uma medalhinha de ouro conseguiu em Londres?

É evidente que não se trata aqui de desmerecer a importância do esporte na formação do indivíduo. Os benefícios físicos e psicológicos obtidos com a prática esportiva são inegáveis. A questão é de foco. O objetivo é estimular hábitos saudáveis nas escolas - para os quais bastam uma bola, uma quadra e um bom professor de educação física - ou vamos gastar milhões em diversos equipamentos esportivos para formar campeões em dezenas de modalidades?

Antes de pensar em mudar de patamar olímpico, o Brasil precisa elevar o seu padrão de ensino. Dados como os divulgados anteontem pelo governo federal sobre o grau de conhecimento dos nossos estudantes são inconcebíveis, muito mais do que os resultados esportivos. A nota do estudante do ensino médio é de apenas 3,7, para se ter uma ideia.

Se até 2016 o Brasil conseguir melhorar significativamente os indicadores educacionais, aí sim teremos algum motivo para comemorar.

Fonte: Rogério Gentile, "Folha de S. Paulo", Opinião, 16/8/12, p. 2.

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