domingo, 5 de agosto de 2012 | |

Inversão de valores: a ética no banco dos réus

Então ficamos assim: o ministro José Antonio Dias Toffoli - um dos 11 decisivos votos do STF (Supremo Tribunal Federal), a mais alta corte do Judiciário – não se considerou impedido de participar do julgamento do chamado “mensalão”, iniciado na última quinta-feira (2/8).

Dias Toffoli traz no currículo o fato de ter advogado em favor do PT (partido foco da denúncia em julgamento no STF), de ter sido assessor na Casa Civil do então ministro José Dirceu (justamente um dos principais réus do caso) e de ter defendido o ex-presidente Lula em três campanhas eleitorais, recebendo pagamento de Delúbio Soares (ex-tesoureiro do PT e também réu no caso).

Não bastasse isso, Dias Toffoli namora uma advogada que atuou em defesa de um ex-deputado federal do PT também réu no processo do “mensalão”. E, para fechar a questão familiar, o irmão do ministro é prefeito de Marília (SP) justamente pelo PT.

Cobrindo causas forenses na Comarca de Limeira durante anos como repórter de um jornal, vi juiz se declarar impedido de julgar um processo por motivo muito menos relevante.

Pois para Dias Toffoli, todas as ligações de seu currículo e de seu passado (não é preciso sequer considerar a namorada e o irmão) com os réus não foram suficientes para ele se declarar suspeito no julgamento.

É uma questão de foro íntimo, um direito do ministro considerar-se apto para julgar o caso – até porque ninguém pediu sua suspeição -, mas que é eticamente questionável, isto é.

Como disse um amigo recentemente ao comentar uma certa boataria envolvendo o trabalho da imprensa: “é uma total inversão de valores”.

Assim, não é só o “mensalão” que está em julgamento no STF. A ética também foi parar no banco dos réus.

O voto de Dias Toffoli promete, desde já, provocar polêmica.

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