segunda-feira, 13 de agosto de 2012 | |

A visão do outro

Assistindo à primeira temporada de “Clube dos Correspondentes”, série da Globo News, comecei a pensar no Brasil e nas nossas falhas (ou desafios, chame como preferir).

Ouvir um correspondente é, como disse certa feita um amigo, “olhar a garrafa pelo lado de fora” para quem sempre esteve dentro dela. Em outras palavras, ter outra visão.

Naturalmente, fazer esse exercício exige boa dose de humildade e abertura para ouvir, enxergar e refletir (como você se comporta diante da crítica ou do apontamento de um colega ou amigo?).

Voltando à questão principal: dos tantos apontamentos feitos, dois chamaram mais a atenção. Um deles veio do correspondente da rede de TV Al-Jazeera, a principal emissora de notícias do mundo árabe. Questionado sobre o que lhe causava mais espanto no Brasil, ele respondeu sem titubear: o modo como o brasileiro assimilou a violência no dia-a-dia.

Segundo esse correspondente, é comum no mundo ocidental as pessoas imaginarem que as cidades e os países árabes vivem um eterno conflito bélico, com tiros e mortes todos os dias pelas ruas.

Ao contrário, disse ele: há, sim, guerras estabelecidas, mas em locais específicos. Em geral, falou o jornalista, as cidades são pacíficas e pode-se sair às ruas, ir ao supermercado e ao cinema com toda tranquilidade, sem o aparato de segurança (oficial e não-oficial) que se vê no Brasil.

O correspondente contou que a filha, quando esteve no Brasil, assustou-se ao ver tanta gente armada em tantos lugares – nos bancos, hospitais, casas noturnas, nas ruas. De acordo com ele, o brasileiro acostumou-se a este estado de violência e não se dá conta do clima de insegurança e terror em que vive.

Ontem, no último programa da série (foram quatro na primeira temporada), o correspondente de uma agência de notícias da China enumerou os três problemas que mais chamam a atenção dele no Brasil: corrupção, burocracia e baixa eficiência.

Ao ouvir, refleti sobre como um problema está umbilicalmente ligado ao outro: a corrupção favorece a burocracia e se alimenta dela. O resultado de uma e outra é a pouca eficiência.

Será que poderemos um dia nos considerar desenvolvidos de fato sem resolver estas questões básicas de civilidade?

PS: a primeira temporada de “Clube dos Correspondentes” será reprisada a partir do próximo domingo, sempre às 17h05.

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