terça-feira, 28 de agosto de 2012 | |

A política e a polícia fracassaram

Aparecido Capello assumiu o comando da Delegacia Seccional de Limeira em 27 de março de 2002. Tão logo tornou-se chefe, reuniu a imprensa para se apresentar. Eu era repórter do “Jornal de Limeira” na ocasião e cobri a chegada do novo comandante da Polícia Civil na regional de Limeira.

Lembro bem da ocasião: com a fala calma que lhe é característica e observado pelos olhos claros e de ar sombrio da garota do quadro que há anos estampa a parede dos fundos da sala do seccional, Capello elegeu o combate ao furto e roubo de veículos como prioridade de sua gestão.

De imediato, anunciou a criação de uma força-tarefa para combater esse tipo de crime e também os que estão diretamente ligados a ele, como a receptação de peças pelos desmanches.

Então uma verdadeira praga em Limeira, os furtos e roubos de veículos tinham somado 772 casos em 2001. Já no primeiro ano de Capello à frente da Seccional, o número saltou para 859. Em 2003, a primeira redução em muito tempo – 800 ocorrências. No ano seguinte, uma pequena alta: 828. Uma nova queda foi verificada em 2006 (882 casos) após uma “explosão” nos casos no ano anterior (993).

Capello deixou a Seccional no final de 2008. Entregou ao sucessor um índice de 1.020 roubos e furtos de veículos. Desde então, a unidade policial já teve dois comandantes – Sebastião Antonio Mayrinques e o atual, José Henrique Ventura. Desde então, a ação dos ladrões de veículos só cresceu na cidade. Em 2011, foram 1.564 casos (média de quatro por dia), um recorde histórico.

Tem-se, portanto, que em dez anos esse tipo de crime dobrou em Limeira, o que não se deu com a população nem com a frota veicular (que cresce assustadoramente, mas não na mesma proporção).

Na polícia, sempre que tais números são apresentados, surge o argumento de que muitos casos decorrem do chamado “golpe do seguro”. Deve ser fato – hoje e ontem. Ou seja, a alegação que vale para agora também há de valer para dez anos atrás, ainda que em menor número, mas não o suficiente para justificar o aumento verificado nas estatísticas da Secretaria da Segurança Pública.

Embora eu acredite que a máxima “contra números não restam argumentos” merece ser relativizada, neste caso não há o que contestar. As forças de segurança – comandadas prioritariamente pelo governo estadual – fracassaram na política de repressão aos furtos e roubos de veículos.

Um fracasso que tem custado um alto preço à sociedade, seja diretamente pela perda do bem pela vítima (um prejuízo estimado em torno de R$ 23,5 milhões considerando só os casos de 2011 e tomando como valor médio dos veículos R$ 15 mil), seja indiretamente pelos donos de veículos ao pagarem mais pelo seguro – as companhias seguradoras apontam o problema como causa principal dos preços elevados do serviço em Limeira.

Em tempo: fenômeno semelhante ocorreu em Piracicaba (1.935 ocorrências em 2011) e Americana (1.539 casos), o que reforça a tese que se trata de um crime regional, combatido via de regra localmente porque faltam integração e inteligência conjunta para as polícias.

No que diz respeito aos furtos e roubos de veículos, a “política de segurança” do Estado - se é que há... - falhou.

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