sexta-feira, 4 de maio de 2012 | |

Novos jornalistas

Prezados pais, amigos, companheiros e companheiras dos formandos, queridos alunos. Boa noite. Que alegria imensa reencontrá-los neste momento tão importante. Sou acostumado a falar de improviso, mas ocasiões especiais exigem algo mais apurado. E esta é, sem dúvida, uma ocasião especial.

Alguns gestos são extremamente significativos na vida de qualquer pessoa. Seja um simples “muito obrigado” ou o convite para uma formatura, significam sempre uma manifestação de atenção e carinho. Assim, ser convidado para representar o corpo docente desta turma que hoje se forma em Comunicação Social, na habilitação Jornalismo, é uma distinção que me deixa honrado e agradecido. Tenham, desde já, minha gratidão.

Quando entrei nesta instituição pela primeira vez como professor, tinha plena noção do tamanho da responsabilidade que me aguardava. Procurei desde o início fazer meu melhor. Recebi do Isca Faculdades uma missão nobre: ensinar. Sabia que ficara para trás o tempo em que o professor era o sábio detentor de todo o conhecimento. Confesso, porém, que não esperava aprender tanto quanto aprendi com cada um de vocês, queridos alunos. Conheci pessoas diversas, com modos e pensamentos diferentes; encontrei novos colegas e descobri até amigo – e quão valorosos são os amigos.

Quantas foram as vezes em que cheguei nesta instituição cansado e saí renovado com a energia de vocês, a energia da juventude. Não que eu esteja tão longe assim dos tempos de jovem, mas posso dizer que quando fiz faculdade ainda não se usava e-mail - e é melhor parar esta parte por aqui.

Não é sobre mim, porém, que gostaria de falar nesta noite. Os protagonistas desta solenidade são vocês, queridos alunos. Por isso, peço licença aos pais e convidados para me dirigir diretamente aos formandos. Vocês escolheram uma profissão difícil, em vários aspectos. Trata-se de uma verdadeira profissão de fé – e não cito fé aqui em seu sentido mais estrito, religioso, e sim num sentido mais amplo.

Nossa missão profissional é árdua: denunciar e escancarar o que muitos querem esconder. Fiscalizar e cobrar o que não querem que seja fiscalizado e cobrado. Como já dizia o grande Millôr Fernandes, “jornalismo é oposição, o resto é armazém de secos e molhados”. Fazer isto, porém, custa caro. Não é à toa que vez ou outra sofremos retaliações e ameaças – sei bem o que é isto. Muitos de nossos colegas pagam com a própria vida. Só este ano, um jornalista foi morto a cada cinco dias nos quatro cantos do mundo, relata a organização Repórteres Sem Fronteira. No Brasil, quatro jornalistas foram assassinados em 2012, um a cada mês. Foram mortos porque contrariaram interesses. Em última análise, padeceram por simplesmente exercer a profissão que escolheram. A eles, portanto, nossas homenagens.

Não pretendo aqui assustar aos pais, namorados e namoradas, maridos e esposas, mas o fato é que a profissão de jornalista tem certas particularidades que precisam ser ditas. Costumamos trabalhar muito e receber pouco, muitos de vocês já devem ter se dado conta disto. Não é à toa que muitos abandonam a profissão (perdoem-me a franqueza, mas isto tudo tem que ser dito).

Se decidirem seguir em frente, tenham consciência: jornalismo é profissão de fé. Somos movidos por ideais – unicamente por isso, ideais.

Sobre a profissão, porém, já conversamos bastante durante as aulas e nos encontros fortuitos no dia-a-dia das nossas atividades. Gostaria, portanto, de pedir licença para falar sobre algo mais importante, a vida. É sobre isto que quero conversar com vocês, queridos alunos.

A vida é um bem precioso. Um bem, acredito eu, movido a sonhos. Tenho certeza que dentro de cada um de vocês, ou da maioria de vocês, reside um sonho. Ou muitos sonhos. Às vezes adormecido, mas ele existe, está aí. Talvez seja preciso permitir que ele se manifeste, só isso. Se assim for, ouçam-no. E comecem. Dêem o primeiro passo – ele é o mais difícil de todos, acreditem. Corram atrás. Não se acovardem perante os riscos e as dificuldades, são parte da nossa caminhada pela vida. Não se permitam chegar ao fim e, ao olhar pelo retrovisor, constatar que deixaram de tentar pelo medo de falhar. Tenham certeza: é melhor arriscar e eventualmente alcançar coisas grandiosas, mesmo expondo-se à derrota, a ficar inerte, sem conhecer nem vitória nem derrota.

Para dar o primeiro passo, é preciso uma boa dose de coragem, é verdade. Muitas vezes também uma dose de ousadia. E até, às vezes, uma porçãozinha de loucura. Antes e acima de tudo, porém, é preciso que vocês não se acomodem. Nunca. Trabalhei numa empresa que teve durante algum tempo um slogan de que eu gostava muito: “Acomodar-se jamais!”. A inquietude das almas move o mundo, desde os primórdios.

Não, não é fácil, eu sei. “Todos somos escravos da esperança e do medo”, já dizia Sêneca. Aliás, vem deste mesmo pensador uma sentença bastante interessante e adequada para o que pretendo dizer: "Com efeito, viver muito tempo quem decide é o destino. Viver plenamente, o teu espírito." 

Por isso, queridos alunos, não se permitam acomodar. Não se conformem com a mesmice. Sonhem, planejem, busquem, façam a diferença – não para os outros, mas para si mesmos. E lembrem-se: cada dia conta. Se ao final da jornada, vocês puderem repetir as sábias palavras registradas em uma das cartas do apóstolo Paulo ao jovem Timóteo, terá valido a pena: “Combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé”. Façam, pois, valer a pena o bem precioso a que chamamos de vida.

Parabéns e sejam felizes, queridos alunos e agora colegas de trabalho. É o desejo mais precioso que posso ofertar-lhes neste momento.

Muito obrigado.


PS: discurso proferido por mim, na qualidade de professor homenageado, na formatura da turma 2011 de Comunicação Social (Jornalismo e Publicidade/Propaganda) do Isca Faculdades em 4/5/12.

* Queridos alunos, esta foi a única foto que encontrei da turma nos meus arquivos. Infelizmente, nem todos foram à comemoração nesse dia (há, portanto, alunos faltando na foto, como há também pessoas que não eram alunos da classe). Seja como for, vale a intenção.

Afinal, por que não tiramos mais fotos?

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