domingo, 10 de julho de 2011 | |

A cidade e nós


Impossível não ficar emocionado quando se caminha neste parque suspenso - cheio de árvores, flores e gente -, que, até há pouco tempo, era um viaduto abandonado e sombrio, em via de ser derrubado.
Visitei na semana passada a segunda fase, recentemente inaugurada, do viaduto High Line, cujo projeto vem atraindo a atenção de arquitetos e urbanistas do mundo todo. Foi criado um sistema de águas que correm pelo solo, quase lembrando um córrego. Como fazia sol naquele dia, as crianças se banhavam deitadas no chão.
Os moradores das proximidades voluntariamente cuidam das flores e das árvores. A vida se propagou, reciclando o entorno do viaduto com novos ateliês, lojas, bares, restaurantes e edifícios. Tamanha foi a emoção coletiva com a obra que, em um dos prédios, pessoas imaginavam colaborar fazendo, ao anoitecer, um show gratuito: striptease na janela. Virou ritual, mas acabou proibido.
Imagine o nosso "minhocão" sem carros, tomado por jardins, surgindo uma floresta nessa cicatriz da cidade de São Paulo. É, certamente, o que os cariocas vão saborear com o fim de um viaduto ou, pelo menos, de parte dele na zona portuária, a ser convertido num parque.
Além de arquitetos e urbanistas, um novo profissional entra no debate sobre o efeito desse tipo de solução. Neurocientistas estão descobrindo como a cidade se processa no cérebro das pessoas e como o contato com a natureza produz reações surpreendentes.
Está aí uma novidade a que os candidatos a prefeito devem prestar atenção.
Segundo cientistas, um simples passeio num parque, como o que eu realizei no "minhocão" nova-iorquino, é capaz de aumentar a capacidade de um indivíduo para solucionar problemas.
Submetidos a uma experiência comandada por neurocientistas, grupos foram convidados a realizar uma bateria de provas várias vezes num dia. Um deles, porém, era convidado, entre um exame e outro, a caminhar por um bosque. Os demais caminhavam apenas pela rua, sem tanta presença da natureza.
Nessa experiência, comandada por neurocientistas da Universidade de Michigan, nos Estados Unidos, constatou-se que o passeio entre as árvores estava associado a um desempenho melhor nos testes.
(...) Experiências como a de Nova York, entre tantas outras espalhadas pelo mundo, que tornam as cidades mais inteligentes, passam a ser vistas como uma espécie de remédio para a saúde mental. Transformam, em suma, venenos em terapia.
Por isso há cidades norte-americanas experimentando chamar psicólogos e neurocientistas para ajudar no planejamento urbano.
Fonte: Gilberto Dimenstein, "Venenos da cidade", Folha de S. Paulo, Cotidiano, 10/7/11 (para ler a íntegra, clique aqui - é preciso ter senha do jornal ou do UOL)

* No blog Piscitas – Travel & Fun, descrevi a sensação de conhecer o High Line. Para ler, clique
aqui.

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