segunda-feira, 4 de outubro de 2010 | |

O recado de Eliseu (ou a sinuca de Félix)

Sustentado pelos 39 mil votos que recebeu na eleição para deputado federal (32 mil só em Limeira, onde ficou em primeiro lugar), o presidente da Câmara Municipal, Eliseu Daniel dos Santos (PDT), anunciou nesta segunda-feira, menos de 24 horas após o fim da votação, sua pré-candidatura a prefeito em 2012.

Quem conhece Eliseu sabe que ele sempre sonhou em comandar o Executivo limeirense. Carregando a experiência de três mandados de vereador, sendo duas vezes presidente do Legislativo, o pedetista acredita que a votação obtida ontem o credencia à disputa. E disse isso em entrevista ao programa “Fatos & Notícias” (TV Jornal, segunda à sexta, 11h30) sem meias palavras. “É chegada a hora de eu concorrer ao cargo de prefeito da cidade, estou preparado para isso. (...) Vou colocar meu nome sim com toda certeza na disputa”, afirmou.

Para garantir a candidatura, porém, Eliseu precisará superar um obstáculo interno e silencioso – que ele conhece bem: a resistência do chefe do partido, o prefeito Silvio Félix. Nos bastidores políticos de Limeira, é mais do que conhecida a versão de que Félix não morre de amores por Eliseu (aliás, a recíproca é verdadeira), apenas o tolera por sua liderança na Câmara e pela possibilidade de agregar votos à primeira-dama Constância na eleição que acaba de ser encerrada.

Ou seja, neste momento Eliseu é conveniente para Félix, que é conveniente para Eliseu. Daí ao presidente da Câmara ser alçado a candidato oficial do prefeito para sucedê-lo no Edifício Prada vai uma longa distância.

Não foi à toa – nem ao acaso – que Eliseu correu anunciar sua intenção de ser candidato a prefeito. A manifestação pública e concreta coloca uma “batata quente” no colo de Félix. Alguns ingredientes explicam isso: 1) o prefeito ainda não trabalhou um sucessor (tal como Lula, considera-se insubstituível e quer alguém em quem possa eventualmente “mandar”, o que não seria o caso de Eliseu); 2) o presidente da Câmara acaba de ter o respaldo de 39 mil votos (ou 32 mil em Limeira) para ser candidato; 3) Constância não pode ser candidata por uma questão legal; e 4) não há outro nome, hoje, com o cacife eleitoral de Eliseu no PDT para enfrentar a disputa pela cadeira principal do Edifício Prada.

O que resta, então, a Félix? Hoje, duas opções: 1) arrumar um candidato no prazo de um ano para trabalhá-lo no outro ano restante e comprar uma briga com Eliseu (com possíveis reflexos na Câmara); ou 2) aceitar a candidatura do vereador. Uma verdadeira “sinuca de bico”, sem dúvida – que Félix estava esperando, mas não tão rapidamente.

A rapidez, contudo, é a arma de Eliseu. Ele mandou o recado, quer pressionar o prefeito desde já. Colocar o time em campo é uma forma de acuar o adversário e forçar Félix a decidir. Caso o prefeito dê sinais de que não apoiará a provável candidatura de Eliseu, o presidente da Câmara não tem dúvida: deixará o PDT. Neste caso, encontraria abrigo fácil em outro partido interessado em seu cacife político.

O jogo de xadrez de 2012 começou – e tanto Félix como Eliseu são bons jogadores, sabem fazer articulações políticas, ainda que às custas da perda de aliados de outrora (no caso de Félix, são muitos casos e o pragmatismo político-eleitoral sempre falou mais alto).

PS 1: um dos cotados para ganhar o apoio de Félix para sua sucessão, o secretário todo-poderoso Ítalo Ponzo Júnior deixou o governo há alguns meses, colocando em dúvida essa opção.

PS 2: se Eliseu quer levar adiante seu sonho de tornar-se prefeito, precisa começar a pensar em planos para a cidade – o que pretende para Limeira, como executar os projetos, etc. Hoje, sua candidatura soa mais como um projeto pessoal.

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