terça-feira, 21 de setembro de 2010 | |

"Neymar e o escafandro"

ERREI.

Tinha achado que Neymar agira bem ao ficar no Santos em vez de ir para o Chelsea. Pensei nos fatos imediatos. Neymar fatalmente ficaria algum tempo na reserva. Os dois atacantes titulares do Chelsea são excepcionais, Drogba e Anelka. No último campeonato inglês, o Chelsea ultrapassou a marca histórica de 100 gols em sua campanha vitoriosa graças a Drogba e Anelka, acima de tudo.

Então me pareceu melhor que Neymar ficasse onde estava.

Mas depois de ver o comportamento de Neymar mudei de idéia. O Chelsea teria um papel fundamental para ele: educá-lo. Tirar-lhe o que os cronistas de futebol chamavam, antigamente, o “escafandro” - uma máscara enorme. Ali ele seria o que é, um jovem promissor a se lapidado dentro e fora do campo. No meio de grandes estrelas, teria um exercício cotidiano de humildade - cuja falta pode abreviar sua carreira.

Não dá para imaginá-lo, no Chelsea, dizendo a zagueiros de outros times que é milionário. Até porque os zagueiros terão mais dinheiro que ele, pelo menos por algum tempo. Também não dá para pensar nele insultando o técnico porque não foi escolhido para bater um pênalti. Com Lampard no time, seria virtualmente impossível que Neymar sonhasse cobrar pênalti no Chelsea.

O escafandro já acabou com jogadores parecidos com Neymar. Não apenas porque passam a ser malvistos pelos adversários e pelos próprios companheiros, mas porque uma das consequências inevitáveis dele é a convicção de que você não precisa treinar como os outros.

Neymar tem dois exemplos fortes nos quais se mirar dentro do próprio Santos. Um é o de Robinho, que acabou por se tornando apenas mais um bom jogador na multidão por causa de seu comportamento extravagante e irresponsável. É um jogador desprezado no melhor mercado do mundo para um jogador hoje: o inglês.

O outro exemplo é Pelé. Com a idade de Neymar, Pelé era campeão do mundo. Voltou da Suécia coroado rei do futebol. E só permaneceu assim até o final da carreira porque jamais cedeu à tentação do escafandro.

Fonte: Paulo Nogueira, jornalista, no blog “Diário do Centro do Mundo”

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