terça-feira, 18 de maio de 2010 | |

Ensaio sobre a covardia

Dentre todas as qualidades humanas, haverá alguma predominante? Será a humildade, a extrema capacidade de ser o que se é, nada mais; e de não se assoberbare pelo que se é? Será o respeito, que pressupõe a legítima existência do outro? Será o amor, que pressupõe uma entrega incondicional e absoluta?

E entre os defeitos, haverá o pior? Será a mentira ou a falsidade, que apenas por estar em oposição à verdade já merece a execração? Será a soberba, que significa em última instância a diminuição do outro? Será a covardia, que pressupõe o medo? Seja qual for, tem-se posta a fraqueza de caráter. É isto que representa qualquer destes - e de outros - defeitos, um desvio de caráter.

Virtudes e vícios são inerentes à condição humana. Não há quem não os possua - pressupor a ausência de um ou de outro já será, por si só, um defeito. Tampouco há quem possua unicamente qualidades ou defeitos. De todos, porém, exige-se o máximo das virtudes e o mínimo dos vícios. A quem pretende representar um coletivo, qualquer que seja este, algumas virtudes em especial se tornam imprescindíveis. A honestidade, o respeito e a humildade estão neste rol. Do mesmo modo, alguns desvios se revelam ainda mais execráveis. A mentira, a soberba e a covardia são bons (?) exemplos.


Tomemos a covardia como foco de estudo. Pelo Dicionário "Michaelis", ela é entendida como "medo, pusilanimidade; acanhamento, timidez; ação que denota medo ou perversidade". O Dicionário Houaiss a define como "comportamento que denota ausência de coragem; atitude, gesto que se caracteriza pelo temor, pelo acanhamento, pela falta de ousadia".

A covardia se opõe à "audácia, bravura, brio, coragem, denodo, destemor, impavidez, intrepidez, valentia". É um vício de comportamento que definitivamente os grandes homens não possuem. Deles se aceita outros desvios, não este. Não haverá quem se queira grande, poderoso, que possa ter em si um mínimo de covardia. E que não se entenda que estes, os grandes homens, possuem aquela valentia estúpida que beira a intolerância e a presunção.

Não. Porque à ausência da covardia se soma a humildade. Pode-se pensar que esta mistura é desafiadora. E é! Tão desafiadora que só está presente no caráter dos grandes homens. Dos demais, espera-se tudo - inclusive a covardia. Afinal, são eles pequenos como um grão de areia ou a semente da mostarda.

PS: texto meu, publicado no Jornal de Limeira de 28/9/2008, véspera da eleição municipal.

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