segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010 | |

"Arruda nada muda"

A prisão de José Roberto Arruda nada muda no quadro amplo da corrupção institucional.

Mais impactante do que sua prisão no cargo foi o fato de ele ter resistido tanto tempo no posto mesmo depois das imagens chocantes da podridão de seu governo.Assistimos a um verdadeiro "Big Brother Brasil" da política, com dinheiro em envelopes pardos, meias, cuecas e até orações pelo maná da corrupção. Mas, mesmo assim, Arruda ficou, com o apoio da maioria de seus pares e cúmplices.

Assim como o impeachment de Collor no nascedouro deste ciclo político nada mudou na forma podre de se fazer política no país, a prisão temporária de Arruda, embora inédita, nada muda porque não há no eleitorado semialfabetizado e entre juízes, promotores e policiais força capaz de enfrentar a corrupção consensual e viral entre nossos políticos -a pior face do país.

As eleições seguem financiadas de forma criminosa pelo caixa dois, pecado original da política. E não há entre os grandes partidos ninguém que empunhe a vassoura contra a corrupção, tão óbvia e popular.

Enquanto a economia avança e puxa o Brasil, depois do libertário consenso fechado por Lula em torno do capitalismo, a política segura nosso potencial como uma bola de ferro em nossos pés. É o outro forte consenso, este sufocante, fechado por Lula e seus mensaleiros.A Itália mandou para o lixo o sistema político do pós-guerra com a Operação Mãos Limpas, força-tarefa de magistrados contra a corrupção desembestada. Apesar de erros processuais, que impediram punições mais duras, os italianos ao menos tentaram, deram limites à impunidade e aos políticos.

No Brasil, não se vê agente capaz de realizar feito similar, até porque as altas instâncias judiciais e policiais são manietadas pela classe política, sem falar de falhas graves nas investigações e nos processos.Por isso, não se anime muito com a prisão de Arruda. Infelizmente, ela não muda nada no sistema.

Fonte: Sérgio Malbergier, Folha de S. Paulo, 14.2.2010, p. 2.

* Brasília fracassou, de Fernando Rodrigues

* Brasília é um caso especialíssimo, de Hélio Schwartsman

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