terça-feira, 29 de dezembro de 2009 | | 0 comentários

"Natal fora de época" - por que não?

Não sei se me entendem, mas devo confessar que implico com o Natal.

A implicância não se deve a razões religiosas. (...)

Implico com o Natal por razões deste mundo, portanto bem profanas. Quando novembro vai se findando, os sintomas da febre natalina se tornam visíveis numa cidade como São Paulo.

O trânsito, regido por Lúcifer, fica ainda mais demoníaco e a distinção entre as horas mais favoráveis e as de rush desaparece, pois tudo se torna rush. (...)

O Natal se caracteriza, como outras comemorações, por um traço negativo, em grau mais elevado do que as outras: a celebração obrigatória, com data marcada. O comércio inventou os dias das mães, dos pais, da criança, dos namorados, dos amigos e logo vai estender a lista para os amantes ou as amantes secretas e outras categorias.

Em qualquer dessas hipóteses, é possível evitar o ritual de cumprimentos e presentes.

Meu exorcismo, para afastar as pessoas, é curto e grosso: "Mais um dia dos lojistas".

A data natalina está longe da trivialidade desses dias, diretamente vinculados aos interesses comerciais. O mito cristão é poderoso, é belo, mas impõe, mais do que qualquer outro, a observância de certos rituais.

Dentre eles, os presentes ocupam um lugar central. Há quem se encante com o frenesi das compras, com o atravancamento das lojas e das ruas, com a exigência de não se esquecer de ninguém - o esquecimento converte-se num pecado capital -, porém os presentes, ao menos para mim, são um tormento a mais, em meio ao calor dos últimos meses do ano. (...)

Mas me pergunto se não poderíamos trocar a dádiva institucionalizada por uma atitude mais espontânea para quem dá e mais inesperada para quem recebe, a de oferecer presentes ao longo do ano? (...)

Diante disso e de outras coisas mais, como a simbologia dos trenós, das renas, do Papai Noel pesadamente vestido, das comidas próprias para o inverno e impróprias para o nosso verão, não seria possível ao menos mudar uma parte dos hábitos, numa perspectiva reformista, ou escalonar o Natal ao longo do ano, numa perspectiva revolucionária, autorizando a escolha individual do mês favorito do Natal?

Desse modo, poderíamos desconcentrar alegrias e aborrecimento e pronunciar frases hoje impensáveis, do gênero: "Meu Natal cai em setembro".

Fonte: Boris Fausto, historiador, “Folha de S. Paulo”, Caderno Mais!, 20/12/09


Belo texto! Parece que leram meu pensamento (sempre gostei de dar presentes ao longo do ano, sem motivo aparente, e sempre detestei a imposição dos presentes em datas específicas).

Em tempo: os vídeos - do também belo Natal no Edifício Prada - são um contraponto cultural ao texto.

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"Erramos?"

A capa da Folha de ontem diz que "na mídia e em declarações de autoridades americanas, o caso (do menino Sean Goldman, devolvido ao pai após uma novela de cinco anos) ganhou contorno de disputa entre países".

É verdade e, por isso mesmo, o papel da mídia precisaria ser discutido nesse caso.Trata-se de um assunto de família, exclusivamente de família. Não há interesse público envolvido. Há, sim, curiosidade pública, o que é bem diferente. Do que decorre a pergunta que me parece central e me causa desconforto: temos, os jornalistas, o dever, a obrigação, de atender sempre a curiosidade do público, mesmo quando ela é invasiva? Neste caso, é pior ainda, porque invasiva de uma criança.

Não, não me venham dizer que invadimos cotidianamente a privacidade de muitas pessoas. É verdade, mas, em 99,9% dos casos, trata-se de pessoas públicas, que procuraram a notoriedade, não raro apoiando-se na mídia.

A busca pelos holofotes tem preço. Muitas vezes, os holofotes acesos pela mídia é que impedem abusos de diferentes naturezas.

Mas Sean não procurou os holofotes. Seu caso acabou por se transformar em exercício de jornalismo-espetáculo.

E não apenas no Brasil: a rede norte-americana NBC não fretou um avião para levá-lo aos EUA com o pai por amor à infância, mas por amor ao espetáculo.

Nesse espetáculo acabamos por cometer um pecado grave: demos abrigo a uma acusação, feita pela avó materna, de que o Executivo e o Judiciário brasileiros venderam-se aos Estados Unidos pagando com Sean pela manutenção de vantagens comerciais.

Nenhum jornalista sério diria tal coisa por sua conta. Se o dissesse, correria o risco de purgar elevada pena. No entanto, no jornalismo-espetáculo, a acusação foi ao ar e ao papel. Incomoda, não?

(Fonte: Clóvis Rossi, colunista da “Folha de S. Paulo”, pág. 2, 27/12/09)


Em tempo: alguém se arrisca a responder a pergunta do título?

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Twitter - uma definição

O Twitter na visão do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva, ombdusman da “Folha de S. Paulo”: "é usado para disseminar fofoca, banalidade ou informação pessoal coletivizada graças ao ambiente contemporâneo de estímulo ao exibicionismo combinado com voyeurismo".

Faz sentido.

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Sábias palavras

"O fim do ano traz à tona uma opressora atmosfera de felicidade obrigatória. Aqueles de sorriso menos fácil ficam então acuados, estigmatizados pelo crime de não compartilhar o otimismo compulsório dos dias -tão ao gosto vigente."
Igor Gielow, colunista da "Folha de S. Paulo" (pág. 2, 27/12/09)

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"Esses 'meus' cabelos brancos"

"Esses seus cabelos brancos, bonitos,
esse olhar cansado, profundo
Me dizendo coisas, um grito,
me ensinando tanto, do mundo...

Meu querido, meu velho, meu amigo."

Este trecho da música do Roberto Carlos eu dedicaria a mim.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009 | | 0 comentários

Para descontrair

Passeio no parque com a namorada...

Ops...


Ich, agora estou confuso...

Hahaha.

Brincadeira!

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Retratos de Limeira

Ultimamente, tenho feito vários registros - precários, diga-se - de Limeira em diferentes momentos. Tudo pelo celular. Inspirei-me num colega jornalista. Aí vão alguns flagrantes:

Limeira no entardecer e no anoitecer...


... de longe e de perto...


... antes da chuva e durante a chuva...


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A mais nova máquina de voar

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009 | | 0 comentários

The Americans - 50 anos

Já escrevi neste blog (leia aqui) sobre o livro "The Americans", do renomado fotógrafo suíço - e que fez sucesso nos EUA - Robert Frank.

Pois a obra completou 50 anos e ganhou uma exposição em nada menos do que o Metropolitan Museum - a mostra segue até 3 de janeiro.

Para mais informações, há reportagem no Estadão (clique aqui) e uma nota na Folha (aqui). Seguem trechos das duas matérias:

"Quando foi lançado nos Estados Unidos em 1959, The Americans, livro em que o fotógrafo e diretor de cinema Robert Frank imprimiu a visão que teve do país numa jornada de dois anos, foi criticado até como antipatriótico. A 'América' que pretendia ser uma nação serena, otimista e confiante não podia ser a mesma daquelas 83 fotos em preto e branco. Mas era." (Estadão)

"O fotógrafo percorreu a América em uma jornada que se assemelha muito ao processo criativo de Jack Kerouac na elaboração do clássico 'On the Road'. Curiosamente, os dois não se conheciam até as obras mais famosas dos dois terem sido produzidas. Frank convidou Kerouac a escrever a apresentação de 'The Americans' sem que o escritor beat tivesse acompanhado seu trabalho." (Folha)

Já li (a apresentação é de ninguém menos do que Kerouac) e principalmente vi o livro. E recomendo!

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009 | | 0 comentários

1981: o passado e o futuro do jornalismo

Vem de 1981, de uma TV de São Francisco, na Califórnia (EUA), uma interessante reportagem que tratava do futuro dos jornais diante da tecnologia. A discussão: que tal acordar e ter o seu jornal na tela do computador, algo um tanto fantasioso para a época?

A reportagem está em inglês.

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Um encontro com a rainha

Para quem gosta de filmes-documentário, para quem gosta de história, para quem aprecia a incrível aventura humana na terra e principalmente para quem aprecia a complexidade das relações humanas, recomendo “Encontro com a Rainha” (“The Queen and I”).

Trata-se de um filme da iraniana Nahid Persson (informações
aqui) que narra o encontro, 30 anos depois, da cineasta e ex-ativista comunista com a rainha exilada do Irã, Farah Pahlevi.

Farah foi casada por 20 anos com o último Xá (imperador) do Irã, Mohammad Reza Pahlevi, entre 1959 e 79. Foi quando uma revolução comandada pelo aitolá Khomeini derrubou a monarquia, instalando a república islâmica.

Uma das grandes bandeiras de Khomeini era a liberdade de expressão – a gestão do Xá era acusada de torturar e matar opositores e restringir as liberdades.

Fora do poder, o casal Pahlevi foi obrigado a fugir (passaram pelos Estados Unidos e Panamá) até se abrigar no Cairo, Egito. Foi lá que, um ano depois, o Xá morreu. Farah, então, mudou-se para Paris, onde vive até hoje.

A grande curiosidade do encontro – e que dá vida ao filme – é que Nahid foi uma das ativistas que contribuíram para a desgraça de Farah ao promover a revolução. Ao mesmo tempo, o pai da cineasta morrera quando ela tinha 9 anos de idade vítima da falta de condições dada ao povo iraniano pelo império.

Para completar a história, nem Farah nem Nahid podem pisar no Irã desde que os aiatolás tomaram o poder (a cineasta refugiou-se na Suécia).


Como se sabe, a liberdade de expressão ficou na promessa (o governo iraniano continua torturando e matando opositores – o próprio irmão de Nahid foi enforcado com 17 anos de idade -, além de retomar práticas que já tinham sido abolidas no país, como a morte por apedrejamento de adúlteros e o uso do véu negro pelas mulheres).

Trinta anos depois, ambas têm um sonho comum: voltar ao Irã.

Mais que isso, só vendo o filme para compreender que ninguém é tão bom ou mal o tempo todo. E que tudo na vida é circunstancial – analisar situações fora de contexto e sem considerar as circunstâncias e as razões de cada um pode ser um grave erro.

Em tempo: o filme está disponível na grade do GNT.

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Uma frase

"É preciso coragem para assumir a desesperança."
Do filme "Foi apenas um sonho" (Revolutionary Road)

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009 | | 0 comentários

Pop art em Londres

É com algum atraso que divulgo uma interessante exposição que estreou na Tate Modern, em Londres. Desde 1 de outubro, o museu britânico destinado à arte contemporânea exige um conjunto de obras de artistas da década de 1980 que se notabilizaram pela pop art.

Andy Warhol, Damien Hirst, Jeff Koons e Takashi Murakami são alguns dos nomes da exibição.

Chamada “Pop Life, Art In A Material World”, a mostra fica na Tate até 17 de janeiro de 2010. Como infelizmente não é possível ir para Londres toda hora, quem quiser dar uma olhada nos trabalhos da exposição pode clicar
aqui.

* A foto foi copiada do UOL.

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Mais jornalismo

Já que fiz a última postagem ligada a jornalismo, seguem dois materiais que considero interessantes (o primeiro deles está em inglês):



Apostila de Jornalismo

Ah, recomendo também que acessem o blog do curso de Jornalismo do Isca Faculdades e vejam uma parte das produções dos alunos em 2009. Para acessar, clique aqui.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009 | | 0 comentários

Publicidade e jornalismo

Os jornais de Limeira voltaram a usar no final de semana um expediente bastante polêmico do ponto de vista jornalístico. Costumo defini-lo como anúncio invasivo (veja imagem).




Esse recurso não é novo na imprensa. Do ponto de vista do marketing e da publicidade, não resta dúvida sobre sua eficácia. Anúncios desse tipo são notadamente criativos e chamam a atenção. Este é o ponto. O anúncio chama tanto a atenção que deixa a notícia em segundo plano.

Reitero que o problema neste tipo de anúncio não reside na questão publicitária. A pergunta é outra: esse tipo de publicidade prejudica a leitura das matérias? A resposta me parece clara.

Não nego que, neste quesito, sou um tanto conservador. Assumo a posição do designer de jornais Chico Amaral, do estúdio Cases i Associats, de Barcelona. Em palestra num seminário promovido pela Associação Nacional de Jornais (ANJ), ele manifestou preocupação com anúncios que "invadem" as reportagens e afetam a leitura. Segundo ele, a publicidade deveria valorizar o que o meio jornal tem de único e não tentar se apropriar de mecanismos da Internet ou da TV.

Obviamente, não se deve ter uma posição radical. Mas se esta não pode ser tomada em defesa do jornalismo, tampouco deve ser tomada em defesa da publicidade (ou seja, sob o argumento de que tal recurso é criativo e que traz dinheiro).

Aliás, nesse quesito, talvez seja interessante recorrer ao que escreveu Eugênio Bucci em seu “Sobre ética e imprensa” (São Paulo: Companhia das Letras, 2000). Diz ele: “(A lógica) começa pela certeza de que quem sustenta qualquer empresa dedicada ao jornalismo não é a publicidade, mas a credibilidade pública. Um engano bastante comum (...) é supor que a publicidade garante o sustento dos veículos de imprensa. O engano é comum porque se apóia em números verdadeiros. O público não vai atrás do anunciante, mas o contrário. Portanto, (...) para atrair e manter anunciantes é preciso cativar, conquistar e manter o público. (...) O que ‘ajuda’ a publicidade a atingir suas metas é o bom jornalismo praticado pelo veículo, e é só dessa forma – construindo a credibilidade – que o jornalismo pode ‘ajudar’ a publicidade.”

Há quem possa dizer que esses anúncios atrairão dinheiro, o que poderá resultar em investimentos jornalísticos. A prática das empresas, porém, tem mostrado que isso não é verdade. As redações, via de regra, têm sido sucateadas.

A aposta na publicidade a qualquer custo (e a busca por resultados imediatos) em detrimento do investimento jornalístico (com retorno a médio prazo, inclusive publicitário) talvez ajude a explicar a atual crise de parte da imprensa.

Se alguém considera exagerada a minha observação, responda honestamente: gostou de ler (do ponto de vista da legibilidade) as reportagens afetadas pelo anúncio?

***
A discussão não é nova – uma breve pesquisa nos arquivos da “Folha de S. Paulo” resulta numa série de textos abordando a questão. Um apanhado deles segue abaixo (com os devidos links, que exigem senha. Repare que alguns deles partiram de leitores).

Claro que os comerciais podem ter lugar em órgãos da imprensa.Mas a dignidade do jornal exige que este lugar ocupe o segundo plano da informação, da notícia, que constitui a matéria-prima da imprensa. As capas promocionais frustram a expectativa do leitor, que pega o jornal ávido para se informar e tropeça de cabeça com um anúncio gritante. A mensagem subliminar passada ao leitor pelas capas é a de que o jornal foi engolido pela publicidade. Como poderemos confiar na independência do jornal quando este caiu sob os tentáculos do Leviatã da publicidade? Sim, porque a informação tem primazia absoluta sobre os interesses comerciais da empresa, e jamais poderia ser passada para trás, privilegiando o alto empresariado nacional e multinacional.
De
Gilberto de Mello Kujawski em 1 de fevereiro de 2009

Achei lamentável a edição gráfica das páginas A11, A12 e A13 (caderno Brasil) da edição de ontem. As notícias ficaram totalmente subordinadas ao estilo gráfico irreverente da publicidade. Era impossível concentrar-se na informação por causa do impacto visual do anúncio. Se foi um sucesso publicitário, a edição foi um fracasso jornalístico.
De
Aline Leal Barbosa em 18 de março de 2008

A publicidade não é inimiga do jornalismo - sem ela, componente fundamental da receita, um jornal pode acabar se financiando de modo heterodoxo. Trata-se, contudo, de atividades distintas: a finalidade do jornalismo é informar.
A diretora de Revistas diz que a Redação só tem acesso prévio aos "anúncios irregulares, que interferem na diagramação e/ou que citam produtos editoriais". Esses podem ser recusados.
De
Mário Magalhães, ombudsman, em 1 de julho de 2007

Muitas falhas podem ser atribuídas à Folha, mas dentre elas não está o hábito de permitir que interesses da área Comercial se misturem ao noticiário.
Na segunda-feira, porém, houve um chato escorregão, quando o anúncio de um banco, em formato de "u" invertido, enquadrou, isolando-o totalmente, um texto jornalístico que, numa primeira mirada, facilmente se confundia, assim, com a própria publicidade. (...)
Compreende-se que os publicitários busquem formas criativas capazes de -nos termos de um leitor que reclamou desse "desrespeito" para com a reportagem enquadrada- carnavalizar as páginas dos jornais. Cumprem seu ofício.
Mas não é desejável, apesar das dificuldades econômicas atuais dos meios de comunicação, que estes façam concessões que possam levar ao esfarelamento da tradicional e indispensável separação entre publicidade e notícia.
De
Bernardo Ajzenberg, ombudsman, em 18 de maio de 2003

Anúncio é renda. (...)
Há uma disputa muito grande entre os diversos meios de comunicação pelas verbas publicitárias, e os jornais vêm perdendo terreno. (...)
Os jornais têm, portanto, que se mexer. Devem oferecer eficiência (de venda) e criatividade para os seus anunciantes.
Anúncio é informação. (...)
Mas e o leitor? Ele não recusa inovações ou anúncios criativos. O que o incomoda é qualquer coisa que dificulte a leitura do jornal. Nesses casos, reclama, e com toda a razão. O jornal tem de usar o bom senso nessas horas para conciliar os seus interesses com os dos anunciantes e, principalmente, os dos leitores.
De Marcelo Beraba, ombudsman, em 13 de junho de 2004

A meu ver, trata-se de procedimento errado. A última palavra sobre a invasão do terreno tradicionalmente informativo deveria ser da Redação.
De
Carlos Eduardo Lins da Silva, ombudsman, em 19 de outubro de 2008

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009 | | 3 comentários

"Piratas da fé"

É muito fácil fundar uma igreja no Brasil. No último domingo, esta Folha publicou reportagem em que relatava como três de seus profissionais criaram a Igreja Heliocêntrica do Sagrado EvangÉlio, com custo de R$ 418.

Ninguém seja maluco de participar de igreja de jornalista, mas, ironias à parte, com a sua nova doutrina, Hélio Schwartsman e seus dois "bispos" puderam fazer operações financeiras isentas de IR e IOF.

Pela lei, como qualquer outra, a Igreja Heliocêntrica está dispensada de pagar IPTU (imóveis urbanos), ITR (imóveis rurais), IPVA (veículos) e ISS (serviços). A Constituição concedeu imunidade tributária às igrejas como forma de proteger a liberdade de culto. Na prática, esse princípio vem sendo sistematicamente desvirtuado.

Um dos efeitos históricos dessa distorção, para falar do que importa, foi a consolidação de um novo grupo de milionários da fé, basicamente composto por pastores-empresários e pastores-políticos. Eles se valem do dinheiro obtido por meio da religião (o dízimo, não tributado) para alavancar atividades mercantis que deveriam estar sujeitas ao recolhimento de impostos.

Não há como decidir por princípio se uma igreja é "séria" ou "vigarista". Aos olhos do fiel, a sua igreja será sempre legítima. Para um ateu, todas têm o dom de iludir.

A questão aqui é outra: o pastor pode pregar para (ou enganar) seus fiéis à vontade; só não pode é usar a Bíblia para ludibriar a Constituição. Igrejas não podem ser biombo de práticas comerciais nem a fé pode ser pretexto para atos ilícitos.

Quando alguém extrai lucro de um estacionamento ao lado de um templo e não paga IPTU por isso, temos aí um pequeno delito. Quando o dinheiro dos fiéis está na origem de um conglomerado empresarial que tem como joia da coroa uma TV (concessão pública) avaliada em R$ 2 bilhões, então o problema é bem mais sério. E pior fica quando esses piratas do Senhor se tornam figuras respeitáveis da República com o respaldo do governo.

Fonte: Fernando de Barros e Silva, Folha de S. Paulo, 2.12.09, p. 2.

PS: eis o que eu penso. E está dito! Aliás, as autoridades em Limeira podiam dar uma checada na situação dos "piratas da fé".

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"O olhar externo sobre 2010"

No Foro Eurolatinoamericano de Jornalismo, que foi o que me trouxe a Lisboa, em conversas com personalidades ibero-americanas, em mesa redonda na TV portuguesa sobre a Cúpula ibero-americana que começa hoje -em toda a parte, a sensação que se respira são duas: uma, a de que o Brasil é o país da moda hoje.

A outra é a de que o resultado da eleição de 2010 não vai mudar grande coisa no país. A mais contundente afirmação nesse sentido veio de Felipe González, ex-presidente do governo espanhol (1982-1996), um dos mais brilhantes políticos do quarto final do século passado.

Para ele, há, no Brasil, uma "linha de continuidade entre o presente e o futuro", do que decorre a visão de que, "qualquer que seja o vencedor [em 2010], o Brasil não vai mudar sua estratégia básica".

De certa forma, é uma elaboração mais sofisticada da tese do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que não haverá "trogloditas" na iminente disputa eleitoral.

Tendo a concordar com essa avaliação, embora definir quem é ou não "troglodita" seja uma questão subjetiva. Lula era "troglodita" para, por exemplo, uma parte considerável do empresariado, os mesmos que hoje babam na gravata diante do presidente.

A única dúvida sobre as duas sensações citadas no início surgiu em conversa informal com uma das mais experientes personalidades do mundo ibero-americano, um analista excepcional.

Ele pergunta a si próprio se a projeção internacional do Brasil é do Brasil ou de Lula. Acho que é de ambos, mais do Brasil (pelo tamanho, população, economia etc). Mas Lula também pesa. A dúvida é pertinente: quanto pesará o/a ganhador/a? Como será a primeira eleição em que a política externa tende a ter presença, a resposta dirá se a "estratégia básica" muda ou não.

Fonte: Clóvis Rossi, Folha de S. Paulo, 29.11.09, p. 2.

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Acontece...

Nossa, isso na Globo dá demissão!!!
(Acrescido em 8/12: lamentavelmente, o UOL retirou o vídeo que mostrava erros ocorridos no Jornal da Globo. Mantenho a postagem aqui).



E olha isso!